A Shemitá e os Sinais do Fim

A Shemitá e os Sinais do Fim

28 de Janeiro, 2022 12 Por Getúlio Cidade

Neste artigo, aproveitando o grande interesse despertado pelo artigo anterior, vamos prosseguir discutindo sobre a shemitá, um tópico de relevância para todos que desejam interpretar os tempos em que vivemos. De maneira alguma, pretendo esgotar o assunto em um simples artigo – isso me seria impossível —, mas apenas destacar alguns fatos que colocam a shemitá e os sinais do fim em uma relação de equivalência. Caso não tenha lido o primeiro artigo e queira obter um maior esclarecimento, clicar aqui.

Um ciclo de shemitá se refere a um período de sete anos da terra de Israel, dos quais, em seis, a terra é cultivada e, no sétimo, ela deve repousar, segundo o mandamento de Levítico 25:1-4. Esse sétimo é o ano sabático (shemitá). Historicamente, um ciclo de shemitá está ligado a eventos marcantes em Israel e no mundo, bem como a algumas tragédias globais como as guerras mundiais. A maioria desses eventos ocorre no primeiro ano após uma shemitá, ou seja, no primeiro ano do ciclo de shemitá. Vamos enumerar alguns mais recentes da história contemporânea.

EVENTOS MARCANTES EM UMA SHEMITÁ

Os eventos ligados à shemitá são observados por vários rabinos, ortodoxos e messiânicos, há muito tempo. Todos são unânimes em enxergar neles uma conexão entre a shemitá e os sinais do fim. O fato da ocorrência desses eventos se dar no início de um período de shemitá, normalmente no primeiro ano do ciclo,funciona como um marco de transição de uma fase para outra. Alguns desses eventos são verdadeiros divisores de água para Israel e para as nações, provocando mudanças históricas bem definidas.

Após a formação do novo Estado de Israel, em 1948, o evento mais importante que mudou completamente a nação, bem como a forma de se relacionar com seus vizinhos árabes, foi a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Ela se deu no ano de 5727 do calendário judaico, primeiro ano de um ciclo de shemitá. Após ser atacado em três frentes de batalha, Israel conseguiu uma vitória esmagadora e inexplicável do ponto de vista militar, conquistando, em apenas seis dias, quatro vezes o tamanho de seu território original. Dessa conquista, a tomada de Jerusalém oriental foi a mais importante, quando o monte do Templo voltou para os judeus após quase dois mil anos nas mãos dos gentios. O resultado dessa guerra moldou a geopolítica do Oriente Médio até os dias atuais.

Sete anos depois, no ano de 5734 (1973/74), no início de outro ciclo de shemitá, Israel foi atacado no dia da Festa de Yom Kippur, o dia mais sagrado do judaísmo (10 de Tishrei), pelo Egito e pela Síria em duas frentes distintas. A despeito de pesadas perdas, Israel conseguiu repelir o ataque e manter os territórios antes conquistados na Guerra dos Seis Dias. Ato contínuo, o conflito causou um embargo dos países árabes produtores de petróleo aos EUA por terem prestado assistência a Israel. Isso gerou a famigerada crise do petróleo, quando o preço do barril praticamente quadruplicou em questão de semanas, causando enorme revés na produção industrial, especialmente dos EUA, gerando inflação e impactando economicamente o mundo inteiro.

Crise do Petróleo de 1973. Posto de combustível no estado de Connecticut com o aviso: “Escassez de gasolina! As vendas estão limitadas a 10 galões por cliente”. (Foto: Owen Franken/Corbis Historical/Getty Images)

No ano judaico de 5748 (1987/88), novamente no primeiro ano de um ciclo de shemitá, no dia 19 de outubro (coincidente novamente com o mês de Tishrei), houve o inesquecível crash da bolsa norte-americana de 1987 no episódio que ficou conhecido como Segunda-Feira Negra. Segundo o Federal Reserve (Banco Central americano), essa foi a primeira crise financeira global contemporânea.[1] E ocorreu apenas quatro dias após a Festa dos Tabernáculos.  

Na virada do milênio do calendário gregoriano, um acontecimento chacoalhou o mundo no ano judaico de 5761 (2001/02). É logico que me refiro ao infame 11 de setembro e a seu espetáculo de terror assistido ao vivo pelo mundo inteiro. Esse evento ocorreu no fim de um ano sabático, exatamente a uma semana da Festa de Rosh HaShanah (1 de Tishrei), marcando o início de um novo ciclo de shemitá (5762-5768). Os ataques terroristas causaram uma queda livre no mercado de ações que acumulou 1,4 trilhão de dólares em perdas.[2] O ouro e o petróleo dispararam de preço e o estrago na economia global foi imediato.

No dia 29 de setembro de 2008, ocorreu a maior queda do Dow Jones em apenas um dia, com 777,68 pontos.[3] Até março de 2020, no início da pandemia do coronavírus, esse era o recorde da maior queda na história. O fato se deu exatamente na transição do dia 29 de Elul para 1 de Tishrei, quando se celebra Rosh HaShanah, marcando não somente o ano novo judaico, mas o primeiro ano de um novo ciclo de shemitá, 5769 (2008/09). Agora perceba a ironia no número de pontos da queda da bolsa! Parece um recado claro de Deus (sete é o número da shemitá, repetido três vezes).

No ano de 5776 (2015/2016), novamente no primeiro ano de um ciclo de shemitá, a bolsa de Nova York experimentou várias quedas consecutivas, não com a gravidade da crise de 2008, mas que levaram a uma perda de mais de dois trilhões de dólares em apenas seis dias. Outra perda grande ocorreu com o estouro da bolha do mercado de ações da China, acarretando uma perda de mais de 40% em dois meses.[4]

USANDO A LEGENDA CORRETA

Esses acontecimentos mostram uma clara conexão entre o primeiro ano de um ciclo de shemitá e o cumprimento de juízos e promessas para Israel e as nações gentílicas, seguindo os tempos e o calendário estabelecidos por Deus, o qual foi dado a Israel. A shemitá faz parte dessa engrenagem do relógio de Deus, juntamente com as demais Festas do Senhor estabelecidas em sua Torá que ocorrem no tempo e nas estações por Ele designados para cumprir seus propósitos sobre a Terra.

Isso explica a necessidade de nos voltarmos para Israel. Tentar compreender esses acontecimentos, bem como eventos vindouros e os tempos do fim, excluindo Israel da equação, é o mesmo que assistir a um filme em uma língua desconhecida e sem legenda. Você poderá até captar o sentido de algumas cenas, mas perderá seu enredo por completo. Quando nos voltamos para Israel, estamos usando a legenda correta para compreender a linguagem de Deus falada na trama do filme que se desdobra em nossa contemporaneidade. Daí a importância de conhecermos nossas raízes judaicas. Respondendo a uma pergunta frequente, esse é o propósito do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo.  

No artigo anterior, vimos que as setenta semanas de Daniel são dez ciclos de shemitá (10 x 7 anos), abrangendo as duas vindas do Messias, e que já se passaram nove ciclos, restando apenas um ciclo completo ou uma semana de anos (sete anos) para a segunda manifestação do Messias. Como Deus trabalha dentro dos tempos e das estações que Ele mesmo designou, esse ciclo de sete anos, também conhecido como Grande Tribulação no Novo Testamento, precisa coincidir seu início com um novo ciclo de shemitá. Não será um evento aleatório.

Como estamos em um ano sabático, o presente ciclo se encerra no início do próximo ano novo judaico, em Rosh HaShanah (26 de setembro de 2022). Então, se inicia um novo ciclo de shemitá que poderá coincidir com o início da Grande Tribulação, conforme Jesus a chamou, fazendo menção à profecia de Daniel no contexto da shemitá. Se ela não iniciar agora em 2022, não poderá se iniciar até o ano de 2029, quando se encerra a shemitá. Caso não comece em 2029, somente poderá começar em 2036, e assim por diante.

Se um novo ciclo de shemitá se inicia em setembro próximo, significa que haverá mais uma crise financeira global? Ou que haverá conflitos militares ou outras tragédias? É lógico que ninguém pode afirmar isso categoricamente a não ser Deus. Porém, com base na observação histórica, sabemos que a probabilidade de eventos assim acontecerem na transição de uma shemitá para outro ciclo é significativa. Mas, ainda que soubéssemos que tal crise viesse a ocorrer, não poderíamos avaliar sua gravidade. A crise de 2015, por exemplo, não foi tão grave quanto a de 2008.   

Muitos teólogos especulam há décadas a respeito da manifestação do anticristo, um líder mundial que se levantará com grande poder para implantar seu reino temporário de regime totalitário e global, conforme as Escrituras. Não é difícil imaginar que isso só poderá se concretizar em um ambiente de caos, especialmente econômico, o que pode ser muito bem causado por uma crise financeira sem precedentes que, por sua vez, pode ser deflagrada por uma tragédia mundial. Para exemplificar, pensemos apenas nos eventos que temos vivenciado nos últimos dois anos com a atual pandemia que transformou a vida no planeta, conforme a conhecíamos, em questão de semanas. Será em um tipo de cenário caótico, certamente bem pior que o da atual pandemia, que ele se apresentará ao mundo.

SHEMITÁ E A MENSAGEM CODIFICADA DE DEUS

Conforme visto acima, examinando a história por apenas alguns ciclos de shemitá, verificamos a ocorrência de tragédias como guerras e crises financeiras globais que, na sua maioria, coincidem com o início de um ciclo de shemitá, no primeiro ano. Tais eventos certamente não ocorrem por mera coincidência. Curiosamente, o Talmude, com base em uma profecia de Amós, declara explicitamente que o Messias virá no primeiro ano de um ciclo de shemitá.[5] O Talmude também descreve os anos do ciclo de shemitá que precederão o Messias como sendo de extrema dificuldade, com fome, mortes e guerras, o que confere com a descrição dada por Jesus para a Grande Tribulação.

Além desses sinais ocorrerem no primeiro ano após o ano sabático, também ocorrem próximo a Rosh HaShanah (1 de Tishrei). Essa data marca a Festa das Trombetas, o início do ano novo civil de Israel. Esse é um mês muito importante no calendário judaico, pois compreende as três Festas do Outono em Israel. Não apenas a tradição ortodoxa crê que o Messias se manifestará nessa época, mas também a messiânica. Os eventos ligados ao arrebatamento, Bodas do Cordeiro, volta do Messias para livrar Israel de seus inimigos e o início de seu Reinado milenar estão todos conectados a essas Festas que ocorrem no mês de Tishrei (setembro/outubro).

Assim, analisando o drama com a legenda correta, podemos interpretar o que Deus está dizendo. Não é de surpreender que esses eventos marcantes ligados à shemitá ocorram em Tishrei ou em datas bem próximas dele. Também não é de surpreender que boa parte desses eventos esteja ligada a crises financeiras. Parece que o próprio Deus propositadamente abala aquilo que é mais idolatrado pela humanidade — o dinheiro — a fim de mostrar quem está no controle do universo.

“Porque assim diz o Senhor dos Exércitos: Ainda uma vez, daqui a pouco, e farei tremer os céus, e a terra, e o mar, e a terra seca; e farei tremer todas as nações, e virá o Desejado de todas as nações […]”. Ageu 2:6,7 Segundo essa passagem, é necessário que as nações sejam abaladas antes da volta do Messias, o Desejado de todas as nações. Isso já tem ocorrido em seguidos ciclos de shemitás, mas certamente se agravará com a proximidade de sua volta.

Ao mesmo tempo em que abala as nações para sinalizar o fim da presente era, Deus parece enviar uma mensagem codificada em meio a crises e tragédias de cada ciclo de shemitá. Uma mensagem de amor e misericórdia de um Pai que deseja resgatar todos que para Ele se voltarem nesses tempos tenebrosos: “Arrependam-se, porque o Reino dos céus está próximoMateus 3:2.


[1] Stock Market Crash of 1987 | Federal Reserve History

[2] How September 11 Affected The U.S. Stock Market (investopedia.com)

[3] Stock Market Crash 2008: Dates, Causes, Effects (thebalance.com)

[4] $2.1 trillion erased from U.S. stock market in 6 days (cnn.com)

[5] Talmude Babilônico, Sanhedrin 97a.


Leia também:

Shemitá – o Ano Sabático do Senhor

A Morte da Rainha e a Shemitá

As Setenta Semanas de Daniel

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