Tabernáculos: Tempo de Alegria

Tabernáculos: Tempo de Alegria

26 de Setembro, 2021 2 Por Getúlio Cidade

Chegamos à terceira e última das Festas do Outono em Israel. A Festa dos Tabernáculos ocorre cinco dias após Yom Kippur e tem oito dias de duração. Portanto, vai de 15 a 22 de Tishrei, sendo que o primeiro e o último são dias de descanso (feriados nacionais). Neste ano de 2021, a Festa vai do pôr-do-sol de 20/09 ao pôr-do-sol de 28/09. Vamos saber um pouco mais sobre seu simbolismo e conhecer o significado de Tabernáculos: tempo de alegria.

Essa Festa ocorre em cumprimento ao contido em Levítico 23:33-44. Seu nome é Tabernáculos porque o povo deve montar tabernáculos, cabanas ou tendas e habitar neles por sete dias (o último dia da Festa é um feriado especial). O nome da Festa em hebraico é Sukkot (plural de sukkah, palavra para tabernáculo). A razão desse mandamento é porque o povo habitou em tendas em sua peregrinação pelo deserto do Sinai. De igual modo, o povo de Israel deve habitar em tendas ou tabernáculos, como “estatuto perpétuo” por suas gerações, a fim de não esquecer de como Deus os conduziu pelo deserto.

Tabernáculos também encerra o período da colheita anual em Israel, quando se prepara para o próximo ciclo de chuvas de outono, plantio, cultivo, chuvas de primavera e colheita, nesta ordem. O fato de se encerrar a colheita é motivo de alegria e gratidão a Deus que concedeu as chuvas nas estações apropriadas e proveu fartura de frutos nas lavouras. Por esse motivo, Deus ordena a Festa após o povo ter “recolhido os produtos da eira e do lagar” (Dt. 16:13). E é aqui que o Senhor ordena que haja alegria em todos os presentes em Israel: “Alegrem-se nessa festa com os seus filhos e as suas filhas, os seus servos e as suas servas, os levitas, os estrangeiros, os órfãos e as viúvas que vivem na sua cidade.” Deuteronômio 16:14

Em seguida, está implícito que a celebração da Festa é condição para que se tenha um bom resultado na próxima colheita, no ano que se inicia: “Pois o Senhor, o seu Deus, os abençoará em toda a sua colheita e em todo o trabalho de suas mãos, e a sua alegria será completa” Deuteronômio 16:15. Por dois versículos consecutivos, fala-se de alegria. Primeiro, alegrar-se é uma ordem para se celebrar a Festa; segundo, ao celebrá-la, sabe-se que Deus abençoará a colheita do ano que se inicia. É por isso que Tabernáculos é conhecido como o “tempo de nossa alegria”. E assim tem sido ao longo de séculos e milênios.

O SIMBOLISMO DA SUKKAH

Os dias após Yom Kippur e antes do início de Tabernáculos são dedicados à montagem da sukkah por cada família e comunidade. É uma estrutura muito simples, feita com ripas e folhas de madeira, normalmente com três lados fechados e um aberto, e coberta com ramos de árvores, especialmente de palmeira. Os ramos são colocados de modo que haja pequenas frestas por onde se possa olhar o céu. Ainda que muito simples, a sukkah é adornada por dentro com os frutos comuns da terra de Israel, além de adornos de bandeirolas e outros feitos de papel colorido. A ideia é ser um local bem simples, sem confortos físicos, porém aconchegante.

Cada família de Israel providencia a montagem de sua sukkah fora de casa, no quintal, no jardim, na sacada ou até na rua. Há ainda as tendas coletivas como nos Kibbutzim (vilarejos comunitários) e nas praças das cidades, mais espaçosas, que podem receber várias famílias. Cada sukkah é uma extensão do lar, onde a família se reúne para fazer todas as refeições e passar tempo em comunhão. Por isso, é comum também convidar parentes mais distantes e amigos para partilhar desses momentos únicos de Tabernáculos. Procura-se passar a maior parte do dia dentro da sukkah, mas não se dorme nela, embora haja pessoas que fazem questão de passar nela a noite.

A sukkah nos ensina algumas verdades a respeito do que é importante em nossas vidas. Por não ter nenhuma beleza externa e ser constituída de uma frágil estrutura, lembra-nos de nossa consistência humana, tanto física quanto existencialmente. Muitas vezes, passa-se tanto tempo preocupando-se com o exterior, a aparência e o corpo físico, e esquece-se do interior, daquilo que mais importa por ser eterno.

A sukkah aponta para esse corpo exterior que não subsiste perante a eternidade. O que importa são as pessoas que estão dentro, pois são a alma e o espírito da sukkah. Sem elas, esta não passa de uma estrutura rústica e de baixo valor, assim como é o corpo comparado ao espírito. Os filhos de Israel passam apenas sete dias dentro da sukkah, pois trata-se de uma habitação temporária. Ela nos lembra que estamos aqui de passagem. E isso nos remete ao próximo ponto.

Justamente por ser um lugar pequeno de pouco ou nenhum conforto, desprovido de qualquer aparelho eletrônico ou eletrodoméstico e das facilidades da vida moderna, a atenção se volta apenas para as pessoas. Vivemos a era da informação, um tempo em que o celular parece possuir proeminência e precedência sobre tudo e todos. Somos bombardeados dia e noite pela tecnologia da qual muitos se recusam a se afastar, nem que seja por alguns minutos. Deixar esse estilo de vida para passar horas a fio em uma tenda sem conexões eletrônicas pode parecer uma aberração.

Contudo, ao deixar de lado tais conexões modernas, voltamos a atenção para aquilo que há muito perdeu sua importância, a saber, o relacionamento humano, principalmente no seio da família. Dentro da sukkah, os relacionamentos familiares e laços entre amigos são reativados e reavivados. As refeições são compartilhadas sem pressa e as conversas se alongam demoradamente. O próprio ambiente reduzido força a aproximação física e da alma. Os diálogos se dão olho a olho, volta-se a sorrir sem reservas e descobre-se a riqueza interior do próximo, seja ele um parente do lar ou um amigo distante. A sukkah é o lugar capaz de produzir esse tipo de milagre moderno.  

Isso nos leva a outro ponto. O importante não é o lugar nem o tempo que se vive, mas com quem se vive, bem como a maneira com que investimos esse tempo para servir o próximo. Foi esse o estilo de vida do Rei Jesus, quando “se fez carne e habitou entre nós” (João 1:14). O verbo usado para habitar tem a mesma conotação de “erguer uma tenda ou tabernáculo e habitar”.[1] Uma tradução mais precisa seria dizer que Ele tabernaculou entre nós.

Logo, Ele deixou sua glória no céu para tomar a forma de nossa sukkah e fazer morada entre os homens. E nessa passagem breve por aqui, o que mais valorizou foi o relacionamento humano com as pessoas que o Pai colocou em seu caminho. Yeshua não desfrutou de conforto nem riquezas, não acumulou bens, mas distribuiu bondade, graça, amor e misericórdia por onde andou, mostrando o que realmente importa nessa vida terrena e cercada de apelo material.   

A FESTA DAS NAÇÕES

A Festa dos Tabernáculos, em comparação às demais Festas do Senhor, é única no sentido de envolver todas as nações, além, logicamente de Israel. Não se trata de apenas uma tradição que outras nações e povos participem dessa celebração, mas sua origem está na própria Torá. O texto de Números 29:12-34 estabelece os sacrifícios que deveriam ser oferecidos durante os sete dias da Festa (o oitavo é um dia à parte). Ao todo, eram sacrificados como “uma oferta queimada de cheiro suave ao Senhor” setenta novilhos. Era a Festa que mais continha sacrifícios desse tipo e o motivo é porque tais ofertas eram em favor das nações. Os setenta novilhos ofertados em Sukkot apontavam para o número tradicional de setenta povos gentios que habitavam a Terra inicialmente (Gênesis 10).

A Festa de Yom Kippur, que ocorre cinco dias antes de Tabernáculos, é exclusiva entre Israel e o Deus de Israel. Nela, um bode era sacrificado para expiar os pecados de toda a nação. Em Sukkot, setenta novilhos eram sacrificados em favor das nações da Terra. Esses sacrifícios eram proféticos e apontavam para o sacrifício único de Yeshua, capaz de expiar não somente os pecados de Israel, mas do mundo inteiro, conforme profetizou João Batista: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!” (João 1:29).

A inauguração do Templo de Salomão se deu durante Tabernáculos (1Reis 8:2). Isso explica a oração de consagração que fez o rei, intercedendo pelos estrangeiros que porventura subissem a Jerusalém para adorar (v.41-43), pois bem sabia que se tratava de uma Festa onde os gentios têm participação ativa.

Zacarias — cujas profecias estão ligadas diretamente a Israel, ao Messias e ao fim dos dias — profetiza sobre o Reinado messiânico e de um novo mandamento às nações gentias que forem salvas na vinda do Senhor para Israel:

“E acontecerá que, todos os que restarem de todas as nações que vieram contra Jerusalém, subirão de ano em ano para adorar o Rei, o Senhor dos Exércitos, e para celebrarem a festa dos tabernáculos. E acontecerá que, se alguma das famílias da terra não subir a Jerusalém, para adorar o Rei, o Senhor dos Exércitos, não virá sobre ela a chuva.” Zacarias 14:16,17

Após a chegada do Messias para instaurar seu Reino a partir de Jerusalém, a participação das nações anualmente na Festa dos Tabernáculos será uma constante.[2] Contudo, isso já ocorre hoje quando dezenas de nações sobem a Jerusalém durante essa Festa para celebrarem juntamente com os judeus ao Deus de Israel. Esse movimento se intensificou nas últimas décadas e, há alguns anos, milhares de estrangeiros, em quase sua totalidade cristãos, inundam a cidade para participar das festividades de Sukkot.

Por essa profecia de Zacarias, os judeus reconhecem o papel importante que os gentios interpretam nessa Festa e recebem os estrangeiros com a alegria inerente a esse período. Portanto, os que sobem de outras nações a Jerusalém, em Tabernáculos, já estão cumprindo profeticamente esse mandamento futuro e atraindo a chuva física e espiritual sobre sua terra.

Parada das Nações na Festa dos Tabernáculos de 2015
Foto: The Times of Israel

Devido a esse volume cada vez mais crescente de estrangeiros em Tabernáculos, o evento conhecido como Parada das Nações se tornou talvez o maior da cidade, transbordando as ruas de Jerusalém com milhares de pessoas, celebrando ao Deus de Israel com músicas, louvores e danças. É um evento muito aguardado e festejado pelos habitantes de Jerusalém, cercado de muita confraternização e de uma incrível atmosfera de alegria, muita alegria.

A Festa dos Tabernáculos encerra as Festas do Outono. Porém, prenuncia um período interminável de regozijo que se iniciará quando o Messias de Israel vier habitar em Jerusalém para tabernacular entre os homens, recebendo a adoração que lhe é devida de todas as nações.[3] As palavras de Neemias, governador de Judá após o exílio babilônico, exortando o povo de Jerusalém durante o período em que, após décadas, voltaram a celebrar Tabernáculos, servem-nos também de estímulo em nossa caminhada até que venha o Rei da Glória: A alegria do Senhor é a nossa força (Ne. 8:10).


[1] Concordância de Strong (gr.) 4637.

[2] As profecias que envolvem a segunda vinda do Messias estão ligadas às Festas do Outono e são tratadas com detalhes no volume 2 do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo.

[3] Zc. 8:3; Is. 2:2; Sl. 135:21 e outros.

Leia também:

Yom Kippur: Perdão e Restauração

Rosh HaShanah: O Rei está no Campo

Descubra a importância de se conhecer nossas raízes judaicas e explore o tema com profundidade. Leia o livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo.

Festa dos Tabernáculos de 2017, em Jerusalém, com 60 mil cristãos vindos do mundo inteiro representar suas nações:

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