O Princípio das Dores

O Princípio das Dores

26 de Janeiro, 2024 4 Por Getúlio Cidade

Iniciarei o primeiro artigo deste ano fazendo menção ao primeiro artigo publicado aqui no blog no ano passado, quando escrevi sobre A Grande Tribulação e as Dores de Parto. Este título fala de dois conceitos bíblicos que, na verdade, são um só, conforme busquei explicar naquele texto. Esse também é um tema tratado exaustivamente no volume 2 de A Oliveira Natural ao abordar as Festas do Outono que apontam para a segunda vinda do Messias. Neste presente artigo, abordarei o período imediatamente anterior às dores de parto, ao qual Yeshua denominou de “o princípio das dores”.

De posse das profecias dos tempos do fim, em especial do livro de Apocalipse, muito se tem discutido a respeito do período de dificuldades, catástrofes, juízo e muita angústia que será o período conhecido por Grande Tribulação. Esse é o mesmo período necessário para preparar o remanescente de Israel para seu encontro com o Rei de Israel, pelo qual experimentará as dores de parto do Messias. Em seu sermão profético sobre os tempos do fim ou Acharit HaYamim, Yeshua começou falando a seus discípulos sobre o período imediatamente anterior às dores de parto.

“E, certamente, ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; vede, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares; porém, tudo isto é o princípio de dores”. Mateus 24:6-8  

Esse período não deve ser ignorado pelos que estudam as profecias e se dedicam à escatologia. O anticristo ou antimessias não irá aparecer do nada. Provavelmente, ele será apresentado ao mundo em uma situação de caos generalizado, sem a qual não seria possível receber o poder das nações e implementar o sistema que lhe dará apoio e sustentação. As nações estarão arrasadas de algum modo ou de outro, seja por uma crise econômica global, por uma catástrofe natural de alcance mundial, por uma terrível pandemia, ou por uma situação de guerra ou guerras intermináveis.

Esse é o cenário provável — não um de paz e prosperidade —, propício à instalação de uma ditadura global. Esse período de confusão crescente e dificuldades deve durar alguns anos, mas sua duração é uma incógnita. Entretanto, não são ainda as dores de parto do Messias, segundo os profetas de Israel, mas o princípio das dores aludido por Yeshua. Analisando o contexto geopolítico e profético em que nos encontramos, consistente com o início de um ciclo de shemitá (que termina em 2029) — em que mudanças drásticas acontecem no mundo —, acredito que adentramos de modo definitivo esse período conhecido por princípio das dores.

GUERRAS E RUMORES DE GUERRAS

Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo viveu sob tensão nas décadas subsequentes da Guerra Fria, com conflitos bilaterais em sua maioria e de forma pontual, na expectativa de uma guerra contra as duas grandes potências mundiais (Estados Unidos e União Soviética), o que poderia ter destruído a humanidade com seus arsenais nucleares. Embora, tenhamos passado perto disso, como na Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962, tal expectativa nunca se concretizou. Vivemos hoje um momento bem diferente, com alguns conflitos mais duradouros, tendo a participação de atores não estatais impulsionados por motivações ideológicas e/ou religiosas, como foi o conflito dos Estados Unidos no Afeganistão contra o Talibã que durou vinte anos.

No atual contexto que começou a ganhar uma forma mais definida nos últimos meses, estamos vendo guerras inesperadas pelo mundo, cenários bem mais complexos e tensões que tendem a escalar para conflitos armados, envolvendo atores estatais e não estatais. Essa nova era de beligerância teve seu divisor de águas no dia 7 de outubro de 2023 que marcou o início da guerra de Israel contra o Hamas, uma guerra diferente de todas as que Israel participou e com potencial para desencadear outros conflitos, afetando o mundo inteiro. Estamos entrando no tempo das guerras e de rumores de guerras, exatamente como previu Yeshua em seu sermão profético a respeito do princípio das dores.

A missão atribuída às Forças de Defesa de Israel pelo governo foi de exterminar o Hamas como organização terrorista, impedindo-o de se levantar novamente e cometer as mesmas barbaridades do último 7 de outubro. Esse objetivo requer uma campanha militar árdua e longa, e exigirá no mínimo muitos meses de operações militares. Não estamos falando aqui de mais um simples conflito de Israel em Gaza. O Hamas não está sozinho, mas tem o apoio do Irã.

Soldados israelenses operando em Gaza em 23 de janeiro de 2024 (Crédito: FDI)

O regime ditatorial que se instalou no país, após a Revolução Islâmica em 1979, se autodeclara o maior inimigo de Israel e dos Estados Unidos. Todas as facções terroristas cujo intento é “varrer Israel do mapa” recebem apoio financeiro, logístico e militar do Irã, como Hezbollah, Jihad Islâmica, Fatah, Houthies, além do próprio Hamas. Isso explica por que, logo nos dias seguintes após estourar a guerra, os Estados Unidos enviaram dois grupos-tarefas nucleados em porta-aviões para o Mar Mediterrâneo, algo que não ocorria há mais de duas décadas, a fim de demonstrar apoio a Israel. O objetivo maior era dissuasório, visando impedir o Irã de entrar diretamente no conflito, trazendo instabilidade ainda maior para a região, bem como se contrapor a seus fantoches em suas ações terroristas contra o Estado judeu.

Em resposta à campanha militar de Israel contra o Hamas, o grupo terrorista Houthies começou a efetuar ataques ao tráfego marítimo no Golfo de Áden e no Mar Vermelho, bem como sequestrar navios mercantes em trânsito na região, com destino ao canal de Suez, vital para a navegação mundial. Isso trouxe um prejuízo incalculável às empresas de navegação, forçando os navios a contornarem o continente africano pelo sul a fim de fugirem dos sequestros e ataques terroristas.

O governo norte-americano não teve alternativa e, a partir do dia 11 de janeiro, iniciou uma operação militar de ataques aéreos contra alvos dos Houthies no Iêmen, auxiliado por forças navais e aéreas do Reino Unido, após formarem uma coalizão militar para garantir a segurança da navegação e do comércio marítimo no Mar Vermelho. Os alvos incluem sistemas e lançadores de mísseis, sistemas de defesa aérea, radares e depósitos de munição. Assim, o conflito em Gaza já atraiu a participação do maior poder bélico do mundo, agora em guerra aberta com outro grupo terrorista apoiado diretamente pelo Irã. Mas isso é apenas o começo.

Navios aguardando no Mar Vermelho, nas proximidades do Porto de Suez, para fazer a passagem do canal pelo lado sul. O canal de Suez é um dos locais mais importantes de escoação da produção mundial pelo comércio marítimo, seriamente afetado nos últimos dois meses por ataques do grupo terrorista Houthies, sediado no Iêmen.

Além de apoiar terroristas para tentar desgastar e enfraquecer Israel, neste mesmo mês, o Irã atacou diretamente três países. Os ataques foram contra alvos no Iraque, na Síria e no Paquistão, sob a alegação de que se tratava de uma célula de inteligência israelense e de alvos terroristas sunitas. O Iraque e a Síria são países fracos demais e afundados em crise, sem capacidade de reagir. O Paquistão, porém, possui um dos maiores exércitos do mundo, além de possuir armas nucleares. A resposta veio no dia seguinte, quando o governo paquistanês executou uma série de ataques em território iraniano, alegando serem contra militantes separatistas paquistaneses que haviam se refugiado no Irã. Os ataques de ambas as partes escalaram as tensões entre as duas potências regionais e podem redundar em hostilidades futuras.

O problema é que o Irã não está sozinho em seus desvarios bélicos, além de desafiar o mundo em sua corrida desenfreada para desenvolver armas nucleares. Ele tem o apoio da Rússia e da China. Os três estão aliançados contra o Ocidente. A propósito, Irã e China têm fornecido armas à Rússia no conflito contra a Ucrânia. Esses países já estão envolvidos direta ou indiretamente no conflito do Oriente Médio, protagonizado por Israel em Gaza. Há alguns dias, a agência Associated Press publicou uma análise conduzida em vídeos e imagens dos combates em Gaza em que conclui que o Hamas tem usado armas provenientes do Irã, China, Rússia e Coreia do Norte.[1] E são justamente esses quatro países que, nos últimos anos, têm sido considerado o “novo eixo do mal” pelo Ocidente. Além do Irã, a Rússia mantém relações firmes com o Hamas, tendo inclusive recebido uma delegação deles dias antes do ataque a Israel, no dia 7 de outubro de 2023. Vale notar que este é também o dia de aniversário de Vladimir Putin. Teria sido o ataque terrorista do Hamas a Israel executado nesse dia como presente de aniversário ao presidente russo?

China, Rússia, Irã e Coreia do Norte representam o novo eixo do mal contra o Ocidente. Dos quatro países, apenas o Irã não possui armas nucleares, mas está priorizando desenvolvê-las rapidamente

Outro evento ocorrido neste fatídico início de ano chamou a atenção da imprensa europeia para a ameaça russa. O jornal alemão Bild publicou uma matéria sobre um documento secreto que teria vazado das forças armadas alemãs em que se delineia uma série de ataques da Rússia à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Tais ataques seriam iniciados por uma guerra híbrida, já em fevereiro, seguida de uma ofensiva contra os países bálticos em julho, basicamente conduzida por ataques cibernéticos e outras formas de guerra híbrida. O clímax se daria no verão de 2025 com o início efetivo da guerra, envolvendo centenas de milhares de soldados da OTAN.[2]

Independentemente do documento ser autêntico ou da matéria do jornal alemão ser confiável, o fato é que autoridades do governo sueco afirmaram recentemente que seus cidadãos deveriam se preparar para uma guerra iminente com a Rússia. Afirmações semelhantes foram feitas no fim do ano passado pelo vice-premier britânico e pelo comandante do exército holandês para seus respectivos povos. Na última segunda-feira, dia 22 de janeiro, o chefe do comitê militar da OTAN afirmou que os países da organização estão se preparando para um conflito de grande escala contra possíveis inimigos, incluindo a Rússia. Também nesta semana, a OTAN iniciou o maior exercício militar em décadas, na Europa, com mais de 90 mil soldados. Parece que estamos assistindo ao prelúdio de um evento de grandes proporções.

A Rússia é um país-chave no fim dos tempos por sua ligação com Gogue. Expliquei isso quando publiquei um artigo tão logo o exército russo invadiu a Ucrânia, o que está prestes a completar dois anos. Reiterando o que escrevi na época, é provável que o início da grande guerra de Gogue tenha se iniciado com a invasão da Ucrânia. Uma guerra que está se expandindo e ganhando contornos de um conflito gradativo e generalizado. As principais potências já estão no Oriente Médio envolvidas na guerra de Israel. Não é exagero dizer que a Terceira Guerra Mundial esteja no horizonte e que nos encontramos no período conhecido por princípio das dores.

Até mesmo na América do Sul, continente historicamente mais pacífico, tem se falado em uma possível investida militar da Venezuela contra a Guiana para se apossar da região de Esequibo, rica em petróleo e outros recursos naturais. Os atuais conflitos e os que estão prestes a eclodir nos conduzem às palavras proféticas de Yeshua em Mateus 24. Estamos testemunhando as guerras e os rumores das guerras — o princípio das dores de parto do Messias.

FOMES, PESTES E TERREMOTOS

As guerras e seus rumores constituem o principal sinal do princípio das dores, mas Yeshua nos alertou para outros que são fome, pestes e terremotos. Assim como as guerras, esses males sempre assolaram a humanidade desde que o mundo é mundo. A questão implícita no discurso do Senhor é que haverá uma maior intensidade desses sinais e isso ficará patente para todos os que estiverem atentos a suas palavras.

Dos sinais indicadores do princípio das dores, a fome é o único que está ligado a todos os demais como consequência direta deles. Ela também depende de diversos outros fatores como pobreza, tragédias climáticas e sistemas políticos, por exemplo. Embora assole dezenas de milhões de pessoas no mundo atualmente, os índices de fome de hoje são bem menores que o de outras eras. Isso, no entanto, pode e deve mudar rapidamente, uma vez que os demais sinais do princípio das dores se intensifiquem (guerras, pestes e terremotos) e considerando que a fome é diretamente proporcional a essas tragédias.

Quantos às pestes, ao se ler essa passagem em outros tempos, esse era um sinal que não fazia muito sentido para a maioria até 2020. Ninguém poderia imaginar uma pandemia e seus efeitos catastróficos em termos emocionais, biológicos, sociais e econômicos, independentemente da forma que foi gerada. Vimos uma pandemia que foi capaz de parar o mundo literalmente. É certo que a palavra para peste aqui se refere também a vírus, uma palavra que não existia no tempo de Jesus. Sim, qualquer vírus letal capaz de infectar uma quantidade incalculável de pessoas equivale a uma peste ou praga, conforme nos tempos bíblicos. Se considerarmos as previsões sinistras de organismos internacionais bem como de pessoas influentes no mundo, como Bill Gates, que afirmam que as próximas pandemias são uma questão de tempo e serão ainda piores, esse sinal passa a ser uma expectativa real e alarmante para o princípio das dores.

Quanto aos terremotos, a ocorrência dos de maior magnitude tem ultrapassado a média estimada por cientistas nos últimos 40-50 anos.[3] Provavelmente, a média de terremotos de magnitude alta aumentará com o princípio das dores. Ou seja, haverá mais terremotos de poder destruidor do que estamos acostumados a ver. No dia 6 de fevereiro, fará um ano do grande terremoto que abalou a Turquia e a Síria, derrubando inúmeros prédios, matando e desalojando milhares de pessoas. Passado um ano, esses países ainda lutam com seus efeitos devastadores.

Logo no primeiro dia de 2024, assistimos a um terrível terremoto atingir a costa oeste do Japão que foi sacudido como uma árvore em um vendaval, gerando morte e destruição. No dia 20, foi a vez do Brasil registrar seu maior tremor de terra da história, no Acre, atingindo 6,6 na escala Richter. Como o centro estava localizado a 614,5 km de profundidade, o abalo não foi sentido.[4] Ainda assim, o terremoto ocorreu, foi registrado pelos sismógrafos e não deve ser ignorado. O ano mal começou e dois países localizados em lados diametralmente opostos do globo tiveram terremotos de magnitude alta em dias próximos. Parece um recado claro de Deus às nações e ao mundo inteiro, um aviso de que estamos a caminho do princípio das dores. Não há como não lembrar das palavras de Ageu: “Pois assim diz o Senhor dos Exércitos: Ainda uma vez, dentro em pouco, farei abalar o céu, a terra, o mar e a terra seca”. Ageu 2:6

Um homem caminha em meio aos destroços de um incêndio causado pelo terremoto do dia 1º de janeiro de 2024, em uma rua na cidade de Wajima, Japão (Crédito: Reuters)

Como disse Yeshua, todos esses sinais devem acontecer, mas ainda não é o fim. São apenas o princípio das dores de parto pelas quais o mundo passará a fim de gerar a vinda do Messias de Israel. Não há como fugir dessa realidade predita com precisão pela Palavra de Deus. Embora as notícias para o mundo nesse tempo não sejam nada alvissareiras, de certo modo, podemos exultar, como nos ordenou o Senhor, porque o tempo de sua volta está próximo. Como seus discípulos, precisamos estar com olhos atentos e ouvidos abertos para reconhecermos o período profético em que vivemos e nos prepararmos para nos encontrarmos com Ele. Maranata!


[1] Hamas utiliza armas da China e da Rússia na guerra contra Israel (gazetadopovo.com.br)

[2] Exclusivo documento secreto sobre a guerra na Ucrânia: Escalada contra a Otan já em 2024 | Política | BILD.de

[3] https://www.usgs.gov/faqs/why-are-we-having-so-many-earthquakes-has-naturally-occurring-earthquake-activity-been  

[4] Maior terremoto da história do Brasil é registrado na Amazônia, com 6,6 graus | CNN Brasil

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