Leitura e Meditação para a Páscoa – Parte 1

28 de Março, 2021 0 Por Getúlio Cidade

Seguem as porções das Escrituras para leitura e meditação para os dias da Festa de Páscoa (Pesach) que ocorre dentro do mês de Nisan, o primeiro mês do calendário religioso e mais conhecido como “tempo de nossa redenção”. Além das porções da Torá (Parashá) e dos Profetas (Haftará), lidas pelos judeus ao redor do mundo durante os dias da Festa, estão incluídas também as porções do Novo Testamento (Brit Hadashá), lidas pelos judeus messiânicos nesse período. Em Israel, a Festa dura sete dias. Na diáspora, a Festa se estende por oito dias. As datas para cada leitura diária não são fixas, mas variam de ano para ano. O dia bíblico tem início ao pôr-do-sol.

Véspera de Páscoa – 14 de Nisan (27 de março)

Este é o Dia da Preparação, dia em que, no sacrifício vespertino, o cordeiro pascoal era imolado, uma figura de Yeshua, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29). Após o pôr-do-sol, reúne-se a família e os convidados para o seder, quando é feita a leitura da hagadá que conta a história do Êxodo. Foi durante esse seder de Pesach, em sua última noite, que Yeshua instituiu a Ceia do Senhor (ver A Páscoa e os Quatro Cálices do Seder). É uma ótima oportunidade de participar do corpo e do sangue do Senhor em família e com irmãos de fé. Reflita na Paixão do Messias e todo seu sofrimento desde o Getsêmani, quando suou sangue em agonia por ter de beber o cálice da salvação em favor da humanidade. O mesmo cálice que nós bebemos com alegria pela redenção, Ele tomou com dor profunda no corpo e na alma, acompanhada de muitas lágrimas.  

Leitura diária: Isaías 53; Mateus 26:17-32; 1Coríntios 11:23-31; Gálatas 1:4; 1Pedro 2:24.

1º DIA – 15 de Nisan (28 de março)

A leitura de hoje fala do sacrifício do cordeiro pascoal na primeira Páscoa, no Egito. Seu sangue trouxe proteção às famílias israelitas que foram livres do anjo da morte. Da mesma forma, o poder do sangue do filho de Deus derramado, o glorioso Cordeiro da Páscoa, livra todo aquele que crê do pecado e da morte eterna. Se o sangue de Abel clamava desde a terra por justiça, quanto mais o sangue do Cordeiro de Deus, ferido desde a fundação do mundo, clama para trazer libertação, cura, livramento, proteção, provisão e vida abundante! Apliquemos esse sangue hoje mesmo sobre nossa vida, família, casa, sobre tudo o que se refere a nós. Para saber mais sobre o papel do cordeiro pascoal, leia A Páscoa e a Figura do Cordeiro.

Este dia marca o primeiro dia da Festa dos Asmos (Hag HaMatzot), pois foi nesse dia que Israel partiu do Egito levando pães asmos, assado às pressas e sem fermento. Yeshua é o Pão Asmo sem fermento (um símbolo do pecado), perfeito e único. Todas as casas de Israel se livram do fermento até o Dia da Preparação para que possam entrar na Páscoa sem nenhum grão em seus lares. Aproveitemos para remover todo fermento de nossas vidas, nossos corações onde Deus habita, e experimentemos do Pão vivo e puro que desceu do céu.

Leitura diária: Êxodo 12:21-51; Números 28:16-25; Josué 5:2-6:1 (relata a primeira Páscoa do povo de Israel na Terra Prometida, em Gilgal); Lucas 22:7-20; João 1:29-31; 1Coríntios 15:3-4.

2º DIA – 16 de Nisan (29 de março)

Esse dia marca o segundo da Festa dos Asmos. Embora se comemore em sete dias, os preparativos que envolvem a retirada do fermento de casa começam desde o início do mês, já que não se pode comer nada com fermento. Este é uma figura do pecado (assim como o fermento infla a massa, o pecado infla o orgulho do homem) e por isso este é um tempo de autorreflexão para sondarmos nossos corações e retirarmos de nossa vida tudo que possa ser prática pecaminosa. O orgulho está ligado a todo tipo de pecado e deve ser arrancado de dentro de nós diariamente. Assim o apóstolo Paulo também nos exorta a nos limpar do fermento para observar essa festa com os asmos da sinceridade e verdade (1Co 5:6-7). Pelo mesmo motivo, somos exortados a examinarmos a nós mesmos antes de participar da mesa do Senhor, a fim de não comer de seu corpo nem beber de seu sangue indignamente (com fermento da maldade), conforme 1Coríntios 11:27-29.

O mês de Nisan compreende três festas que se sobrepõem: Páscoa (Pesach), Pães Asmos (Hag Hamatzot) e Primícias (Yom Habikkurim). A quarta festa que se segue ocorre exatamente sete semanas após a Páscoa (primeiro dia da Festa). Assim, em 16 de Nissan se inicia a contagem do ômer (ramo do centeio) até o quinquagésimo dia, que será exatamente em Pentecoste, outra Festa também ligada à Páscoa (Levítico 23:15-16). É comum se referir às três Festas simplesmente como Páscoa, mas é importante entender essa distinção entre si porque elas apontam para o Messias. Ele morreu na véspera da Páscoa (14 de Nisan), o mesmo dia em que o cordeiro pascal era sacrificado; ficou sepultado durante a Festa dos Asmos e ressuscitou no dia das Primícias (terceiro dia dos Asmos ou 17 de Nisan).

Leitura diária: Levítico 22:26 a 23:44, passagem que trata das Festas do Senhor. Observe que, em nenhum lugar da Torá, elas são chamadas de Festas judaicas como muitos gostam de chamá-las, mas de Festas do Senhor. Da mesma forma, a Páscoa não é judaica, mas a “Páscoa do Senhor” (Levítico 23:5). O termo usado para as Festas é moadim que quer dizer encontro, compromisso, tempos designados. Assim, elas são datas marcadas por Deus em seu calendário para se encontrar com seu povo. Para cada Festa, há um desígnio específico, uma unção reservada para aquele encontro. Esse é um ciclo que se repete anualmente e foi instituído por Deus, não pelo homem. A porção do Haftará está em 2Reis 23:1-9; 21-25, ocasião em que foi celebrada uma das Páscoas mais memoráveis na história de Israel, durante o reinado de Josias, após sua grande reforma que extirpou a idolatria e a profanação do reino de Judá. Por fim, a leitura do Novo Testamento está em Apocalipse 15:1-4 que é o cântico de adoração ao Cordeiro, aquele que venceu a morte e o inferno, e nos trouxe tão grande salvação. Louvado seja seu Nome!

3º DIA – 17 de Nisan (30 de março)

O terceiro dia também é a Festa das Primícias, quando os primeiros ramos de centeio eram levados ao Templo para serem apresentados ao Senhor como oferta pela colheita que se iniciava. Isso era feito com muita alegria porque sabia-se que Deus é quem dava o alimento da terra para seu povo. Era uma ocasião para mostrar gratidão. Somente após a apresentação das primícias do centeio, a colheita poderia ser feita (Levítico 23:14). É também o segundo dia da contagem do ômer, a contagem para a Festa da Colheita que ocorre em sete semanas (Pentecoste).

O terceiro dia da Páscoa também é muito especial para nós porque foi exatamente nesse dia que Jesus ressuscitou. Não foi por acaso que ele ficou três dias morto, mas o Pai escolheu exatamente o dia da Festa das Primícias para ressuscitá-lo, pois esse era um dia de alegria e de esperança pela colheita que havia de vir. Logo pela manhã, o sacerdote apresentava os feixes de centeio como oferta movida perante o Senhor. Nessa mesma manhã, antes do nascer do sol, o Pai ressuscitava Yeshua que se tornou as primícias dos que ressuscitarão para a vida eterna. Isso foi atestado pelo apóstolo Paulo em 1Coríntios 15:20-23, onde ele faz uma clara referência a essa Festa, usando o mesmo termo bikkurim (primícias). Jesus se apresentou como oferta movida ao Pai. Não somente isso, mas também ressuscitou alguns juntamente com ele quando foi morto (Mateus 27:52-53). Após a apresentação das primícias ao Senhor, a colheita se iniciava e era abundante. Assim, Jesus, ao se apresentar como primícias ao Pai, anunciou uma enorme colheita que será feita no fim dos tempos, onde todos que confessam seu nome e o têm como Senhor também irão ressuscitar em um corpo glorioso como o seu.

Assim como ele foi feito nossas primícias, nós também fomos feitos primícias de suas criaturas, gerados pela palavra da verdade (Tiago 1:18). Que possamos nos alegrar nesse dia tão glorioso, marcado na agenda de Deus antes da fundação do mundo, quando ressuscitou seu próprio Filho para nos dar certeza de fé e esperança de vida.  

Leitura diária: Êxodo 13:1-16; 1Coríntios 15:20-23; Romanos 4:25; Atos 26:22-23; João 20:1-31.

4º DIA – 18 de Nisan (31 de março)

É o quarto dia da Festa e o terceiro na contagem do ômer. Dentre os vários textos da Torá lidos na Páscoa, a leitura desse dia abrange as leis sociais, leis de justiça e misericórdia no livro do Êxodo. O Senhor declara: “Não tardarás em trazer ofertas do melhor das tuas ceifas e das tuas vinhas; o primogênito de teus filhos me darás” Êxodo 22:29. Esse texto não fala diretamente da Páscoa, mas faz clara alusão a ela. Não somente deve se dar o melhor a Deus da colheita, mas todo filho primogênito deve ser consagrado a Ele. Isso porque os filhos primogênitos de Israel foram poupados na décima praga do Egito, onde o anjo da morte feriu a todos os primogênitos nas casas onde não havia o sangue do cordeiro pascal. Portanto, é como se Deus estivesse agora exigindo de volta para Ele os filhos que poupou da morte. Não somente os que foram livres do Egito, mas por todas as gerações que se seguissem.

Esse ato, porém, contém algo muito maior e profético. Entregamos nossos primogênitos a Deus porque Ele deu o seu Filho primogênito e único para nos salvar da morte, por intermédio de seu sangue derramado, da mesma forma que o cordeiro pascoal salvou os primogênitos de Israel. Ele deu seu único e primogênito Filho para morrer por nós e nós damos nossos filhos primogênitos para viverem para Ele. É uma troca injusta certamente, incomparável ao que Ele fez por nós, mas é disso que fala a Páscoa. Um animal puro e inocente é morto para salvar uma família pecadora com seu sangue. Foi por isso que Jesus subiu naquela cruz, para levar sobre si toda a injustiça que cometemos com nossas transgressões e se fazer justiça por nós. Por isso, um dos nomes de Deus na Bíblia é Adonai Tsidikenu (o SENHOR é a nossa justiça).

Leitura diária: Êxodo 22:24 a 23:19.


Leia também:

Leitura e Meditação para a Páscoa – Parte 2

A Páscoa e a Figura do Cordeiro

A Páscoa e os Quatro Cálices do Seder

O tema da Festa da Páscoa é bem mais abrangente e discutido com maior profundidade e detalhes, assim como as demais Festas do Senhor, no livro “A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo”. Os que desejarem adquirir uma cópia podem fazê-lo diretamente pelo site da editora ou pelo site da Amazon para versão e-book (links disponíveis aqui no blog).