Como o Ladrão de Noite

Como o Ladrão de Noite

21 de Agosto, 2022 5 Por Getúlio Cidade

Em virtude da aproximação das Festas do Outono, quando se encerrará o presente ano de shemitá (2021/22), iniciando-se um novo ciclo de sete anos, abordaremos neste artigo um assunto que é uma das maiores esperanças de todos os cristãos: a segunda vinda de Yeshua. Ligadas a ela, estão as demais grandes promessas para seus discípulos: a ressurreição dos mortos, o arrebatamento dos justos e o Reinado de paz do Messias. As Festas do Outono de Israel têm cunho escatológico, estão intimamente ligadas à essa segunda vinda e são analisadas com profundidade no volume 2 de A Oliveira Natural.[1]Por ora, vamos buscar compreender o significado da expressão “como o ladrão de noite”, usada pelo Senhor e pelos apóstolos para se referir à sua volta.

Assim diz o texto bíblico: “Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai. Como foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho do homem. Pois nos dias anteriores ao dilúvio, o povo vivia comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca;
e eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim acontecerá na vinda do Filho do homem. Dois homens estarão no campo: um será levado e o outro deixado.
Duas mulheres estarão trabalhando num moinho: uma será levada e a outra deixada.
Portanto, vigiem, porque vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor. Mas entendam isto: se o dono da casa soubesse a que hora da noite o ladrão viria, ele ficaria de guarda e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Assim, também vocês precisam estar preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que vocês menos esperam” Mateus 24:36-44 (NVI). Este discurso de Jesus está dentro do sermão sobre o fim dos tempos, no trecho em que fala diretamente sobre sua vinda.

O apóstolo Paulo, em sua carta aos discípulos de Tessalônica, ao falar sobre a vinda de Yeshua, usa a mesma expressão: “Porque vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá como o ladrão de noite” 1 Tessalonicenses 5:2 (ARC). Outro apóstolo a empregar a expressão foi Pedro: “Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão” 2 Pedro 3:10 (ARC).

Vejam que ambos os apóstolos utilizam a expressão “como o ladrão de noite”, numa clara referência ao que foi dito por Yeshua nos Evangelhos, em conexão com outra expressão escatológica muito conhecida dentro do judaísmo que é “o Dia do Senhor”. O Significado do Dia do Senhor foi o título de nosso último artigo e recomendo sua leitura para uma melhor compreensão do assunto. Por essas passagens, vemos que o Dia do Senhor (Yom Adonai) abrange um período de juízos e catástrofes, exatamente como abordado no sermão de Yeshua nos Evangelhos, que culminará com sua volta.

Assim como ocorre com o significado do Dia do Senhor, o termo “como o ladrão de noite” também causa controvérsia e confusão. Há sempre um risco de má interpretação quando se pega um verso isolado nas Escrituras, sem o devido contexto, e tira-se conclusões precipitadas. Muitos alegam que, por Ele ter afirmado que ninguém sabe o dia nem a hora de sua volta, não se deve nem cogitar em discutir o assunto. Devemos simplesmente aguardar passiva e cegamente sua volta, sem saber quando ela ocorrerá. Mas será mesmo que Ele quis dizer isso em seu sermão? Será que é a vontade de Deus que seus discípulos vivam completamente ignorantes a respeito de sua volta?

INTERPRETANDO OS SINAIS

Por todas as Escrituras, constatamos a importância de se reconhecer os sinais dos tempos em que vivemos. Isso ocorre com os profetas, em especial Jeremias e Daniel. Os filhos de Issacar eram entendidos na ciência dos tempos para saberem o que Israel devia fazer (1Crônicas 12:32). A palavra para entendidos é biná (בינה) e ainda é usada no hebraico moderno. Significa inteligência, sabedoria e compreensão. Assim, na época de Davi, havia uma tribo em Israel ungida com conhecimento e sabedoria que a capacitava a reconhecer os sinais dos tempos em que viviam, orientando o povo a agir em conformidade. Se Deus permitiu que Israel tivesse uma tribo dedicada a interpretar os tempos para que seu povo não agisse com insensatez, por qual motivo Ele iria querer que seus filhos, vivendo em uma era tão importante como os tempos do fim, vivessem como em um jogo de cabra-cega?  

Os Evangelhos contam a história de três sábios provenientes do oriente que souberam reconhecer a chegada do Messias de Israel pelo conhecimento e pelo estudo, em particular dos livros proféticos. O interessante é que, ao determinarem a época de seu nascimento, subiram a Jerusalém para indagar por Ele, partindo do princípio que todo Israel sabia, pois tratava-se do nascimento de seu Rei. Para sua surpresa, sua chegada chamou a atenção de toda a capital israelita que, junto com Herodes, ficou totalmente perturbada com a busca dos sábios pelo Messias (Mt.2:3). Israel não fora capaz de reconhecer o tempo da chegada de seu Messias, mas homens revestidos de conhecimento e sabedoria, sim. E o fizeram porque sabiam reconhecer os sinais dos tempos em que viviam, tal qual os filhos de Issacar dez séculos antes.

A propósito, ao reconhecerem a época de seu nascimento, o sinal que definitivamente os levou até Jesus foi “a estrela do oriente”. Isso demonstra a habilidade que tinham em ler os sinais no firmamento, pois sabiam que Deus estabelecera o sol, a lua e as estrelas para informar os homens sobre seus desígnios. Isso é bíblico e está explicado com maiores detalhes no artigo Os Sinais no Céu da Volta do Messias que pode ser lido aqui no blog.

Outro grande sinal profético ligado à vinda do Messias é a shemitá, o ano sabático observado na terra de Israel. O ciclo de uma shemitá está diretamente ligado às setenta semanas de Daniel que englobam a primeira e segunda vindas do Senhor. A shemitá nos ajuda a conhecer e a interpretar os sinais dos tempos em que vivemos, e são um claro indício de sua volta. Os artigos postados aqui sobre shemitá explicam bem sua importância para Israel e para as nações no fim dos dias.[2]  

A PARÁBOLA DA FIGUEIRA

Sim, a vinda do Senhor será como o ladrão de noite. Todavia, assim o será para todos os que dormem, como as cinco imprudentes na parábola das dez virgens. O evento do arrebatamento será em uma fração de segundo. Quando derem conta os que aqui ficarem, simplesmente não mais verão nenhum dos que foram arrebatados. É a mesma imagem de quem percebe que um furto foi realizado. Isso ocorre no momento em que a pessoa sente falta do objeto que lhe pertencia e se dá conta de que foi roubada. É a mesma imagem de quem teve sua casa invadida por um ladrão que saqueou seus pertences enquanto dormia à noite. A pessoa só se dará conta do ocorrido ao despertar pela manhã. Yeshua não poderia ter encontrado analogia melhor para ilustrar seu retorno repentino.

Por outro lado, para os que o esperam, sua vinda não deve surpreender como o ladrão de noite. O próprio Paulo afirma isso ao empregar essa mesma expressão tão conhecida entre os discípulos, ao escrever: “Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que esse dia vos surpreenda como um ladrão” (1Tessalonicenses 5:4). Portanto, não é correto assumir como desculpa que não se sabe quando o Senhor voltará e alegar ignorância ou despreparo. Podemos não saber os exatos dia e hora, mas podemos e devemos reconhecer o tempo de sua volta. Foi isso que fizeram as virgens prudentes da parábola contada por Yeshua, mantendo consigo suas lamparinas cheias de azeite — um símbolo do Espírito Santo.

O próprio Yeshua repreendeu asperamente os fariseus por não reconhecerem os sinais dos tempos (Mateus 16:2-3). Ele chorou sobre Jerusalém que pagou um alto preço porque não soube reconhecer o tempo de sua visitação (Lucas 19:41-44). E exortou os discípulos com a parábola da figueira para que saibamos reconhecer os sinais de sua volta. Quando seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabe-se que o verão está próximo. Do mesmo modo, quando os sinais apontados por Ele estiverem ocorrendo, saberemos que o Filho do Homem “está próximo, às portas” (Mateus 24:32-33). A figueira é uma imagem de Israel (Oséias 9:10, Mq.4:4). Não é de surpreender o fato de que muitos são incapazes de reconhecer os tempos do fim, pois estão cegos em relação à figueira Israel.

Logo após utilizar a expressão “como o ladrão de noite”, Paulo exorta os discípulos de Tessalônica, dizendo-lhes que são filhos da luz e filhos do dia; para que “não durmamos como os demais, mas que vigiemos e sejamos sóbrios” (1Tssalonicenses 5:5-6). Definitivamente, a imagem do ladrão na noite não se aplica aos que subirão com Yeshua quando Ele se manifestar a fim de resgatar sua Noiva. Por falar em noiva, na antiga cultura de Israel, a noiva não sabia o dia de seu casamento, mas conhecia a época em que seu noivo voltaria repentinamente para a cerimônia. Cabia a ela a obrigação de estar pronta para quando ele chegasse, sob o risco de o contrato de casamento ser desfeito.[3] Assim, como agia a noiva, todos os que creem e esperam em Yeshua devem saber reconhecer o tempo de sua chegada e se prepararem de acordo para não serem surpreendidos.


[1] O volume 2 de A Oliveira Natural se encontra em processo de edição para publicação em breve, ainda em 2022.

[2] Shemitá – o Ano Sabático do Senhor e A Shemitá e os Sinais do Fim foram publicados no início de 2022 em nosso site, despertando muita atenção para esse tema ainda pouco conhecido. Os artigos alcançaram rapidamente milhares de visualizações e repercutiram na mídia cristã.

[3] O antigo casamento judaico possui ricas lições a ensinar sobre a vinda do Messias, o Noivo, e está ligado às Festas do Outono de Israel. Há um capítulo exclusivo no volume 2 de A Oliveira Natural para explorar esse tema fascinante.  


Leia também:

O Significado do Dia do Senhor

A Lua de Sangue e as Festas do Senhor

Explore com profundidade as Festas do Senhor e conheça mais sobre nossas raízes. Leia o livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo.