A Lua de Sangue e as Festas do Senhor

A Lua de Sangue e as Festas do Senhor

22 de Maio, 2022 0 Por Getúlio Cidade

Na noite do dia 15 para 16 de maio de 2022, todo o Brasil, juntamente com as Américas e boa parte do mundo, pôde testemunhar um dos eventos astronômicos mais espetaculares que foi o eclipse lunar total. A lua entrou na zona de sombra profunda da Terra (local em que não chega nenhuma luz solar), o que gera uma coloração avermelhada em torno de si, fenômeno este conhecido como lua de sangue. Esses eventos, além de marcos na astronomia, servem de sinais proféticos dados pelo céu para chamar nossa atenção. Vamos conhecer um pouco mais da relação entre a lua de sangue e as Festas do Senhor.  

Esse último eclipse foi especial em vários aspectos. Além de ser total, com a lua percorrendo todas as fases, teve uma duração de mais de três horas e se deu com a lua bem alta no céu, próxima ao zênite, podendo ser visto em todas as regiões do país. Em minha cidade, Rio de Janeiro, o céu estava claro e a noite agradável, o que permitiu uma longa observação do fenômeno a olho nu. Quem ficou acordado até tarde foi recompensado com a bela visão de nosso satélite natural entrando na penumbra da Terra e, em seguida, na umbra (zona de sombra profunda), ocasião em que ficou completamente avermelhada. 

Eclipses lunares não são raros, mas um eclipse total nas condições desse último, sim. Isso por si só deveria chamar nossa atenção. Não somente para passar a noite acordado contemplando um espetáculo como esse na abóboda celeste, mas para interpretarmos o que Deus está comunicando aos homens por seu intermédio.

Gênesis 1:14 diz que Deus criou os luminares para fazer separação entre dia e noite, e para servirem de sinais para marcar estações. A palavra para estações é מועדים (moadim), a mesma usada para as Festas do Senhor. Ao contrário do que se possa pensar, o texto não é uma referência às quatro estações climáticas do ano, embora saibamos que a posição do sol em sua trajetória aparente também defina tais estações. O foco, porém, da Torá ao descrever o início da criação de Deus é outro. O sol e a lua devem servir como marcos dos “tempos designados”, das “assembleias solenes”, das “Festas”. Essas são possíveis traduções para moadim. Assim, quando Deus os criou, já tinha em mente esses tempos designados, os quais ordenou a Israel que os observasse.

Os sinais desses luminares no céu são cada vez mais comuns com o avançar dos anos, porém, negligenciados pela maioria que não sabe discernir o tempo em que vive, algo que foi repreendido pelo próprio Jesus (Lucas 12:56). Aqui a palavra grega usada para tempo é kairos, correspondente do hebraico para moed (singular de moadim) e se refere ao tempo de Deus, não ao tempo meteorológico ou cronológico. Deus estabeleceu os luminares para marcar seu tempo, suas estações apropriadas, suas Festas. Há um ano, escrevi um artigo sobre esses eventos astronômicos significativos no artigo Os Sinais no Céu da Volta do Messias, visando demonstrar sua importância profética em nossos dias.

Animação da NASA do eclipse lunar total do dia 15/16 de maio de 2022

A SEGUNDA PÁSCOA

O dia 15 de maio coincidiu com a data de 14 de Iyar do calendário hebraico. Este é o dia exato constante na Torá para a segunda Páscoa, mais conhecida como Pesach Sheni. A Festa da Páscoa é a única da Torá que engloba esse conceito de uma segunda celebração. Essa ordenança está em Números 9:6-13. Ela foi dada por Deus a Moisés após este ser questionado por alguns homens que não puderam celebrar a Páscoa na data estabelecida de 14 de Nisan, pois estavam ritualmente impuros por terem tido contato com um cadáver. Moisés recebeu a direção de Deus de que pessoas que estivessem ritualmente impuras, devido a algum contato com morto, ou por se encontrarem em uma viagem longa, ainda assim poderiam participar da celebração. E estabeleceu um mês exato após a Páscoa para isso, em 14 de Iyar.

Essa data é conhecida como Pesach Sheni, a segunda celebração de Páscoa. A não participação da primeira, porém, devia ser justificada. Ou seja, o contato com o cadáver teria de ser uma necessidade como, por exemplo, na morte de um parente próximo. Ou a “viagem longa” só poderia ser uma justificativa se ocorressem imprevistos no caminho que impedissem alguém de chegar a tempo da celebração. Se a não participação fosse por motivo de negligência, a segunda celebração não era permitida e a pessoa era punida com a exclusão da comunidade de Israel, o que, para alguns sábios, era uma pena considerada pior que a de morte.

Portanto, Pesach Sheni fala de uma segunda chance. É relevante que a Festa em que o cordeiro pascal era sacrificado, que teve seu antítipo cumprido no Cordeiro de Deus que foi sacrificado pelos pecados da humanidade, seja a única a contemplar uma segunda data. Isso soa profético e aponta para um Deus de misericórdia e benevolência. A segunda Páscoa foi um pedido de homens que não puderam participar da primeira, mas queriam uma outra oportunidade. Deus não somente atendeu seu pedido, mas expediu uma ordem para sua observação. Ele oferece uma segunda chance para todo aquele que dele deseja se aproximar, ainda que tardiamente. A lua de sangue que vimos no último dia 15 de maio marcou com exatidão a passagem de Pesach Sheni.

AVISOS DO CÉU

Os eclipses lunar e solar são um sinal claro dos tempos do fim, conforme consta nas Escrituras, embora a palavra eclipse não apareça com esse nome, naturalmente. A lua aponta para Israel por reger o calendário hebraico; e o sol aponta para as nações gentílicas por reger o calendário gregoriano. Como Deus estabeleceu o sol e a lua por sinais para marcar seus “tempos designados” ou suas Festas, Ele os usa para emitir seus avisos à humanidade. O próprio Jesus advertiu que um dos últimos sinais que precederão sua volta será o escurecimento do sol e da lua (Mateus 24:29). Não sabemos exatamente como isso se dará, mas uma possível interpretação é que ocorra através de seguidos eclipses.

Um exemplo desses sinais ocorreu com a última tétrade de luas de sangue, uma sequência de quatro eclipses lunares totais ocorridos em 2014 e 2015 que coincidiram exatamente com as Festas da Páscoa e Tabernáculos desses anos. Essa foi uma ocorrência extremamente rara na História e que leva séculos para se repetir, demonstrando a forte relação entre a lua de sangue e as Festas do Senhor. O ano de 2014/2015 coincidiu com um ano de shemitá em Israel. Essa tétrade parecia chamar a atenção para algum acontecimento muito importante que ocorreria no próximo ciclo de shemitá (2015-2022). Se considerarmos a pandemia ocorrida nos últimos dois anos, que impactou e transformou a vida em todo o mundo, concluiremos que a tétrade não foi um mero acontecimento astronômico, mas o prenúncio de uma tragédia global.   

Sequência de imagens da lua de sangue de 27/09/2015, durante a Festa de Tabernáculos.
Crédito: NASA/Rami Daud

A lua de sangue do dia 15 de maio também chama a atenção para outros acontecimentos. Ela ocorreu um dia após o aniversário de independência do moderno Estado de Israel pelo calendário gregoriano (14 de maio de 1948), uma data extremamente significativa não apenas para Israel, mas para todos os cristãos que compreendem pelas Escrituras que essa restauração da nação é parte integrante do processo da volta do Messias. Esse período também tem sido particularmente difícil para Israel pela onda de ataques terroristas que vem sofrendo há oito semanas consecutivas e que já ceifou a vida de dezenove pessoas. A lua de sangue ocorreu também em um ano de shemitá. Com os sinais que historicamente acontecem ao fim/início de um ciclo de shemitá, tal evento se reveste de importância profética. Deus pode estar chamando a atenção de Israel e das nações para algo logo à frente.

A LUA DE SANGUE E A FESTA DE PENTECOSTES

Pentecostes é a última das Festas da Primavera e, de certa forma, uma continuação da Páscoa. Tanto é que se trata da única das Festas do Senhor que não é designada diretamente por uma data específica, mas a partir da contagem do ômer (Sefirat HaOmer) que se inicia na Festa dos Asmos. Pentecostes se dá no dia seguinte à contagem das sete semanas do ômer (49 dias). A Festa das Primícias, ocorrida durante a Páscoa, celebra o início da colheita, enquanto Pentecostes celebra sua plenitude.

Há cerca de um ano, em 26 de maio de 2021, ocorreu outra lua de sangue, dessa vez não visível do Brasil. Sua aparição se deu dez dias após a Festa de Pentecostes. Essa do dia 15 de maio e visível em todo o território nacional se deu vinte dias antes da mesma Festa que cairá em 5 de junho de 2022. A ocorrência desse tipo de eclipse em dois anos consecutivos e próximo de Pentecostes mostra, mais uma vez, a conexão entre a lua de sangue e as Festas do Senhor, em especial com esta Festa, conforme o apóstolo Pedro abordou em seu discurso no primeiro Pentecostes, durante a descida do Espírito Santo sobre os discípulos.

“O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue antes de chegar o grande e glorioso dia do Senhor. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”
Atos 2:20,21. Pedro citou as palavras do profeta Joel (2:31-32), escritas cerca de oitocentos anos antes, um tempo quando a expressão “lua de sangue” nem existia. Joel ligou a lua de sangue ao “dia do Senhor”, um tempo de juízos sobre a Terra ainda por se manifestar e que precederá a volta do Messias. Ao citar essa passagem em uma ocasião tão importante para Israel, Pedro também conectou a lua de sangue à Festa de Pentecostes.

Além de outros sinais aos quais devemos estar atentos, parece que essa lua de sangue tem uma mensagem mais forte que a de possíveis conflitos ou tragédias ao longo do caminho de Israel e das nações. A Festa de Pentecostes aponta profeticamente para a colheita de almas para o Reino de Deus. É a Festa que ainda está se cumprindo no presente, durante a dispensação da graça, na linha do tempo de Deus e antes das Festas do Outono que apontam para sua segunda vinda.

Pentecostes ocorre na plenitude da colheita do trigo e aponta para a colheita de almas para o Reino de Deus

Esse eclipse lunar enfatiza que as portas estão abertas para todo aquele que deseja se aproximar de Deus. Basta fazer Teshuvá. Como escreveu Joel, cujas palavras foram reverberadas por Pedro no primeiro Pentecostes da Igreja: todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo! Antes do tempo de juízo e castigo, há um tempo de misericórdia e salvação para todo aquele que crê. Essa é a mensagem bradada em silêncio dos céus pela lua de sangue. É a voz de um Deus amoroso que aguarda pacientemente que nos acheguemos a si. Haverá sempre uma oportunidade para os que assim o desejarem. Afinal, Ele é o Deus da segunda chance.



Um evento astronômico raro ocorreu entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro de 2023 que foi a Superlua Azul. O autor de A Oliveira Natural, Getúlio Cidade, concedeu uma entrevista sobre o tema, explicando a ligação profética desse acontecimento com as Festas do Senhor. Leia e saiba mais.

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