A Grande Tribulação e as Dores de Parto

A Grande Tribulação e as Dores de Parto

20 de Janeiro, 2023 8 Por Getúlio Cidade

Neste primeiro artigo do ano, gostaria de iniciar com um tema recorrente do recém-publicado volume 2 de A Oliveira Natural que trata das Festas do Outono — a Grande Tribulação. Este termo é bem conhecido dos Evangelhos e do livro de Apocalipse dentro do cristianismo. Em seu sermão profético sobre o fim dos dias, Jesus utilizou outro termo — o princípio das dores — que abrange os eventos que levam a essa Grande Tribulação. Jesus não criou esse termo, mas fez uma referência às dores de parto, equivalente à Grande Tribulação, um termo muito empregado pelos profetas de Israel e bem conhecido da comunidade judaica.

O sermão profético de Jesus é motivado pela indagação dos discípulos a respeito de sua volta no “fim dos tempos”. Este termo — fim dos tempos, fim dos dias, ou ainda naquele dia — é uma sublinguagem das Festas do Outono dentro da escatologia judaica e se refere à chegada do Messias para salvar Israel de seus inimigos. Está intimamente conectado ao Dia da Expiação ou Yom Kippur com inúmeras alusões a ele na Tanach (Velho Testamento).

Jesus inicia seu sermão dizendo: “E, certamente, ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; vede, não vos assusteis, porque é necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes e terremotos em vários lugares; porém tudo isto é o princípio das dores”. Mateus 24:6-8 Lucas, escrevendo sobre o mesmo sermão, acrescenta pestes ou epidemias em Lc. 21:11.

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Yeshua não explicita com que intensidade ou com que gradação esses eventos ocorrerão. Entretanto, não é preciso muita coisa para concluir que o mundo contemporâneo já tem vivenciado tudo isso. Se considerarmos que em pouco mais de um século, ocorreram duas guerras mundiais que afetaram todo o planeta, abatendo alguns impérios e levantando outros, em uma escala jamais vista antes na História, podemos deduzir que já temos vivido o princípio das dores. Isso é ratificado por outras catástrofes como as mencionadas por Jesus, tais como a fome crescente, os terremotos cada vez mais frequentes e a recente pandemia.

Embora sejam eventos árduos para a humanidade, é necessário que ocorram, segundo Jesus, como sinais preparatórios para sua volta. O princípio das dores é resultado de um mundo em uma espiral descendente — em termos morais e espirituais — em uma direção oposta e cada vez mais distante de Deus, que o conduzirá ao fim dessa era conforme a conhecemos, ou olam hazeh como a chama a tradição judaica.

Não apenas os conflitos individuais, sociais, religiosos, civis e militares são cada vez mais frequentes, porém, a crescente inquietação e tensão que vivemos hoje, em todos os cantos do planeta, conduzirão a humanidade a um caos em todos os sentidos. Esse caos é oriundo da tentativa do homem estabelecer seu governo sobre a Terra sem Deus. Essa decisão cada vez mais ostensiva da humanidade em querer eliminar Deus da sociedade moderna é o catalisador para uma conjuntura que conduzirá as nações às plenas dores de parto.

O TEMPO DE ANGÚSTIA DE JACÓ

Quando Jesus fala do princípio das dores, Ele está se referindo às Dores de Parto do Messias (Chevlei Mashiach), abundante nos livros dos profetas (Nevi’im). Essa mesma palavra no original grego aparece em uma das cartas de Paulo para se referir ao mesmo período, justamente quando ele trata do Dia do Senhor (Yom Adonai): “Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão”. 1Tessalonicenses 5:3

Portanto, Paulo faz conexão das Dores de Parto do Messias, na tradição judaica, com o período dos dias do fim, de dor e tormento, também conhecido nas Escrituras como o Dia do Senhor e que nada tem a ver com o sábado ou domingo. A mesma referência neotestamentária surge na visão da mulher e do dragão relatada por João no capítulo 12 de Apocalipse, ao que ele chama de “um grande sinal no céu”. A mulher se veste do sol, simbolizando o resplendor divino (o Sol da justiça) e tem a lua debaixo de seus pés (alusão ao povo judeu cujo calendário é lunar), tendo na cabeça uma coroa de doze estrelas (as doze tribos) e que estava grávida com dores de parto, sofrendo tormentos para dar à luz.

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Essa mulher é Israel e ela está grávida do Messias. O dragão é obviamente Satanás que tenta devorar seu filho, tão logo nasça. É claramente uma alusão à primeira vinda de Cristo, quando Satanás usou Herodes para tentar tirar sua vida ainda bebê, no episódio conhecido por massacre de Belém, também profetizado por Jeremias. No entanto, trata-se de uma profecia dupla, pois o mesmo acontecerá antes de sua segunda vinda. Satanás perseguirá Israel com todas suas forças a fim de tentar eliminar o povo judeu e impedir seu encontro com o Messias. Esse período de extremo sofrimento aludido por Yeshua, Paulo e João é conhecido como as Dores de Parto do Messias.

Essa expressão não foi criada no Novo Testamento, no entanto. Ela vem dos profetas. Jeremias foi um dos que mais profetizou sobre esse tempo futuro de grande tormento para seu povo: “São estas as palavras que disse o Senhor acerca de Israel e de Judá: Assim diz o Senhor: Ouvimos uma voz de tremor e de temor e não de paz. Perguntai, pois, e vede se, acaso, um homem tem dores de parto. Por que vejo, pois, a cada homem com as mãos na cintura, como a que está dando à luz? E por que se tornaram pálidos todos os rostos? Ah! Que grande é aquele dia, e não há outro semelhante! É tempo de angústia para Jacó; ele, porém, será livre dela. Jeremias 30:4-7 Por esse motivo, esse período também é conhecido no judaísmo como o Tempo de Angústia de Jacó.

DOR E SOFRIMENTO PARA DAR À LUZ

As Escrituras fazem menção a esse tempo difícil como sendo de dores de parto para ilustrar a angústia pela qual passará Israel e que resultará na vinda de seu Messias. Este é um tema muito abordado em todo o Velho Testamento, especialmente nos profetas Isaías e Jeremias, mas pouco conhecido dos cristãos não messiânicos. A ideia é de uma mulher que sofre enorme agonia para dar à luz um filho. Além do sermão profético do fim dos dias, Jesus faz novamente referência a expressão tão conhecida dos judeus de seu tempo em sua última noite no seder de Pesach:

“A mulher, quando está para dar à luz, tem tristeza, porque a sua hora é chegada; mas, depois de nascido o menino, já não se lembra da aflição, pelo prazer que tem de ter nascido ao mundo um homem. Assim também agora vós tendes tristeza; mas outra vez vos verei; o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar. Naquele dia, nada me perguntareis (…)”. João 16:21-23

Yeshua aqui se refere não apenas à tristeza temporária que sentiriam os discípulos (talmidim) após sua morte, mas fala profeticamente ao remanescente de Israel que enfrentará dor e sofrimento para dar à luz o Messias. Então, faz referência à sua volta para resgatar este remanescente. “Naquele dia” é uma alusão a Yom Kippur, outra expressão usada para esse dia tão sagrado do encontro de Deus com Israel, mencionado exaustivamente na Bíblia hebraica e nas cartas de Paulo aos Hebreus e aos Romanos. Isso se alinha perfeitamente ao período de muita aflição e angústia que o precede, conhecido como Dias de Temor, os dez dias de jejum, orações de arrependimento e confissão de pecados para os judeus. Os discípulos compreenderam imediatamente que Yeshua estava se referindo às Dores de Parto do Messias (Chevlai Mashiach) e a Yom Kippur.

Yom Kippur (2/10/2014) – Milhares de judeus oram no Kotel, em arrependimento e confissão, pela vinda do Messias. Foto: Ofir Cohen.

Em seu sermão profético, após mencionar o princípio das dores, Yeshua usa a expressão Grande Aflição ou Grande Tribulação para se referir às Dores de Parto do Messias (Mt. 24:21). Entretanto, Ele também não criou esse nome, mas o tomou emprestado do livro de Daniel. Na verdade, Yeshua parafraseia as palavras do anjo Gabriel em Daniel 12:1, afirmando que esse tempo de aflição será inigualável na história de Israel e do mundo.

Tal tempo coincide com a quebra de aliança da falsa paz estabelecida pelo anticristo com Israel na última semana de anos das setenta semanas de Daniel (Dn. 9:27) ou do último ciclo de shemitá que precede a volta do Messias. Voltando à visão de João em Apocalipse, a mulher foge do dragão para o deserto, um local preparado por Deus para que ali se refugie por 1.260 dias (Ap. 12:6), o que equivale a três anos e meio, considerando o ano bíblico de 360 dias, ou metade de uma semana de anos, de acordo com o livro de Daniel.

Referindo-se a essa quebra de aliança, Jeremias profetiza para seu povo: “O que você dirá quando sobre você dominarem aqueles que você sempre teve como aliados? Você não irá sentir dores como as de uma mulher em trabalho de parto?” Jeremias 13:21 (NVI). Este texto é um dos muitos da Tanach que relaciona as Dores de Parto do Messias à Grande Tribulação, conforme predito por Daniel.

Portanto, as Dores de Parto do Messias, a Grande Tribulação, o Tempo de Angústia de Jacó, os Dias de Temor e o Dia do Senhor são expressões bíblicas antigas equivalentes e que devem ser compreendidas dentro do contexto judaico em que foram escritas. São familiares até hoje dentro do judaísmo. Embora estejam presentes nas raízes messiânicas, ainda são desconhecidas de grande parte dos ramos enxertados na Oliveira Natural — a Igreja gentílica.

O FIM DA PRESENTE ERA

O mundo da presente era, conforme o conhecemos, continuará de mal a pior.[1] O termo “princípio das dores” nos leva a concluir que esses eventos trágicos irão aumentar a proporções cataclísmicas, imergindo o mundo em um completo caos, com Deus excluído pelos homens de suas sociedades, um ambiente perfeito para o domínio autoritário e profano do anticristo, opressivo, manipulador e controlador, privado de qualquer tipo de liberdade. De certo modo, não devemos nos surpreender com essa perspectiva, pois o próprio Jesus afirma que o mundo jaz no maligno, bem como tudo que lhe diz respeito.

Conforme predito pelo próprio Senhor, a perseguição aos cristãos aumentará intensamente, o que já pode ser visto e sentido em todo o mundo. A recente Lista Mundial da Perseguição 2023 mostra que hoje já são mais de 360 milhões de cristãos perseguidos no mundo, uma cifra que cresce a cada ano de modo assustador.[2]  Isso se espalhará por todos os países e já está alcançando o Ocidente de modo veloz; é bíblico e não se trata apenas de uma questão de região geográfica. Os tempos angustiosos preditos por muitos profetas, pelo Senhor e pelos apóstolos estão a caminho para Israel e para as nações. Todavia, Yeshua nos motivou a guardar a fé e a nos exultar diante deles, pois, quando chegassem, nossa redenção estaria próxima. Maranata!


[1] “Acredito que a Igreja esteja vivendo seu último ciclo aqui na Terra”, diz escritor – Guiame.

[2] Países da Lista – Portas Abertas


Leia também:

O Significado do Dia do Senhor

As Setenta Semanas de Daniel

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