Pentecostes e a Promessa do Espírito Santo

Pentecostes e a Promessa do Espírito Santo

16 de Maio, 2021 0 Por Getúlio Cidade

Hoje é o último dia da contagem do ômer (Sefirat HaOmer) (para saber mais, clique aqui). Assim, ao pôr-do-sol, inicia-se a Festa de Pentecostes (Shavuot), uma das três grandes Festas cujo comparecimento a Jerusalém era obrigatório (Deuteronômio 16:16). Essa Festa celebra a entrega da Torá ao povo de Israel, cinquenta dias após ter saído do Egito, ocasião da primeira Páscoa do Senhor. Após contarem o ômer por sete semanas (daí o nome Shavuot que significa semanas em hebraico), a partir da Festa dos Asmos, chega-se ao quinquagésimo dia. Foi exatamente nessa Festa de Pentecostes que Yeshua cumpriu a promessa de enviar o Espírito Santo sobre os discípulos.

No primeiro Pentecostes, no deserto do Sinai, o povo de Israel permaneceu ao pé da montanha enquanto Moisés subiu sozinho ao topo para receber a Torá das mãos de Deus. Foi nesse dia que Israel passou a existir como reino sacerdotal e nação santa, separada para o serviço a Deus (Êxodo 19:6).

Para receber a visitação do Senhor, Israel precisou se purificar por dois dias para que, ao terceiro dia, o Senhor descesse à vista de todos sobre o Monte Sinai. Naquela manhã, houve trovões, relâmpagos e um forte som de trombeta, enquanto uma espessa nuvem cobriu o monte e este fumegava, pois Deus havia descido sobre ele, trazendo grande temor sobre o povo (Êxodo 19:10-18). Moisés, então, recebe do Senhor as tábuas com os Dez Mandamentos.

Por outro lado, enquanto Moisés permanecia sozinho e se demorava no topo do Sinai em seu encontro com o Senhor, o povo se desviava lá embaixo no lamentável episódio do bezerro de ouro, caindo em desgraça rapidamente. O resultado dessa idolatria foi a punição por intermédio da espada dos filhos de Levi, o que acarretou a morte de três mil israelitas num só dia.  

O cumprimento da promessa

Em obediência à palavra de Yeshua que, antes de ascender ao céu, ordenara que permanecessem em Jerusalém, os discípulos subiram da Galileia para lá, onde permaneceram por cerca de dez dias até Pentecostes.  

Como essa era uma Festa em que todos os homens deviam comparecer perante o Senhor (Deuteronômio 16:16), Jerusalém estava abarrotada de pessoas, incluindo judeus estrangeiros e prosélitos. Enquanto aguardavam a promessa do Espírito Santo, os discípulos de Yeshua estavam reunidos no Monte Sião, orando sem cessar. Isso se deu cerca de 1.300 anos após o primeiro Pentecostes, no Sinai.

“De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava” Atos 2:2-4.

Concretizava-se a promessa do Espírito Santo, tão mencionada por Yeshua em suas conversas com os discípulos. Eles mal podiam crer no que viam, ouviam e sentiam. O Senhor não os abandonara, mas enviara seu Espírito para permanecer com eles. Era o maior presente que Deus podia dar a um homem em toda a História da humanidade. Doravante, sua habitação não seria mais no suntuoso e opulento Templo, mas com o homem redimido e purificado pelo sacrifício de seu único Filho.

Os judeus estrangeiros e prosélitos presentes na cidade ouviam os discípulos falarem em suas próprias línguas das maravilhas e das grandezas de Deus. Certo alvoroço começou a tomar conta dos visitantes da cidade que estavam ao mesmo tempo pasmos e confusos. Foi nesse momento que Pedro entrou em ação, tomando a palavra e iniciando seu épico discurso.

Aquele era o mesmo Pedro que negara o Senhor por três vezes algumas horas depois de dizer que daria sua vida por Ele. Mas não era a mesma pessoa. Durante o período da Páscoa até Pentecostes, na contagem do ômer (Sefirat HaOmer), Pedro fora completamente transformado de um homem covarde em um homem ousado; de um homem soberbo e autoconfiante em um servo quebrantado e dependente de Deus.

Esse novo Pedro, antes temeroso de ser identificado como um dos seguidores de Jesus, agora declara que Ele é o Senhor e o Messias a plenos pulmões diante de toda Jerusalém com um discurso fervoroso, contagiante e inspirado pelo Espírito Santo, sem medo de ser ouvido pelas autoridades judaicas, nem de ser preso ou morto. Esse foi o primeiro sermão evangelístico do Novo Testamento ou da Nova Aliança, conduzindo cerca de três mil almas ao arrependimento e ao batismo (Atos 2:41), aumentando vigorosamente, em um só dia, as fileiras da Igreja do Senhor.

Que contraste com o primeiro Pentecostes! Neste, três mil almas morreram por sua rebeldia ao sofrerem o juízo divino no Sinai. No primeiro Pentecostes da Nova Aliança, três mil ganharam a vida eterna através de Jesus Cristo, em Sião. O Deus é o mesmo, mas sua Palavra é uma espada de dois gumes (Hebreus 4:12). Ela julga e mata, mas também santifica e dá a vida. A mesma Palavra que matara três mil dava agora vida a outros três mil.

No primeiro Pentecostes, Israel teve um encontro com Deus, ainda que de longe, e o Senhor fez uma aliança com o povo, tornando-lhe uma nação santa e sua propriedade peculiar, intermediada por Moisés. Nesse outro Pentecostes, os discípulos, representando toda a Igreja, tiveram um encontro com o Consolador, enviado por Deus, tendo por Mediador não Moisés, mas o próprio Filho de Deus (Hebreus 12:24).

No dia do primeiro Pentecostes, “todo o monte Sinai fumegava porque o Senhor descera sobre ele em fogo (…)” (Êxodo 19:18). No primeiro Pentecostes do Novo Testamento, foi exatamente isso que aconteceu quando o Espírito Santo desceu com línguas de fogo sobre os discípulos, desta vez em outro monte, em Sião.

No primeiro Pentecostes, Deus entregara sua lei escrita em tábuas de pedra, em meio a relâmpagos, trovões e fumaça no Monte Sinai. Nesse outro, Ele escreveu sua lei nos corações dos discípulos, conforme as promessas de Jeremias 31:33 e Ezequiel 36:26, em meio ao vento e ao fogo da visitação do Espírito Santo, no Monte Sião.

No Pentecostes do Monte Sinai, apenas Israel é chamado a ser uma nação santa e sacerdócio real perante Deus (Êxodo 19:6). No Monte Sião, todos são chamados a serem participantes da Oliveira Natural, Israel, e se tornarem “geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” 1 Pedro 2:9.

No deserto, aos pés do Monte Sinai, o povo recebeu a ordem de lavar suas vestes antes da manifestação do Senhor à vista de todo Israel (Êxodo 19:10-11), o que é um ato de santificação. Na Nova Aliança, somos exortados a nos manter santos, pois sem a santificação, ninguém verá o Senhor (Hebreus 12:14); e ainda: “Bem aventurados aqueles que lavam as suas vestes no sangue do Cordeiro” (Apocalipse 22:14 – AEC).

A Festa da colheita

Após Israel entrar na Terra Prometida, Pentecostes era celebrada com ofertas movidas diante de Deus, primeiro no Tabernáculo de Moisés que ficou erguido em Siló por quase quatro séculos, e depois nos dois templos que foram erguidos em Jerusalém. A Festa ocorria em plena colheita dos frutos da terra, especialmente o trigo que era abundante nessa época. Cada chefe de família levava um cesto com as primícias de sua colheita para entregar aos sacerdotes que, por sua vez, a apresentava como oferta movida ao Senhor.

Em seu discurso inflamado naquele Pentecostes marcado pela descida do Espírito Santo, Pedro declara: “Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos seus pecados, e receberão o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vocês, para os seus filhos e para todos os que estão longe, para todos quantos o Senhor, o nosso Deus chamar” Atos 2:38,39.

Essa é uma promessa que prevê uma colheita iniciada naquele dia e que ainda não terminou, findando-se somente no arrebatamento da Igreja, no fim dos dias. Não é por acaso que Shavuot celebrava o início da colheita de trigo e este cereal representa o homem. Com a descida do Espírito Santo, as três mil almas salvas naquele Pentecostes foram apresentadas a Deus como oferta movida de feixes de trigo para seu Reino. Aquelas eram as primícias das multidões que haveriam de ser salvas ao longo dos séculos até sua consumação.

Ao falar com seus discípulos sobre a colheita, Yeshua disse: “Vocês não dizem: ‘Daqui a quatro meses haverá a colheita’? Eu lhes digo: Abram os olhos e vejam os campos! Eles estão maduros para a colheita” João 4:35. Jesus aqui se referia a uma colheita diferente: a das almas para o Reino de Deus. Ao dizer que os campos já estavam brancos, prontos para a ceifa, Ele se referia profeticamente a esse Pentecostes, quando se iniciou a grande colheita de almas para Deus. Temos estado nessa Festa profeticamente há mais de dois mil anos, a partir do derramar do Espírito Santo no Monte Sião. Desde então, o Senhor tem cumprido sua promessa de habitar em corações humanos através do Espírito Santo (1Coríntios 3:16). E essa é a essência de Pentecostes.


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