Hanukkah – a Festa das Luzes

Hanukkah – a Festa das Luzes

2 de Dezembro, 2021 4 Por Getúlio Cidade

Estamos em meio a Hanukkah, a Festa das Luzes, como é conhecida na cultura judaica. Em termos bem simples, ela se chama festa das luzes porque celebra a vitória da luz sobre as trevas, literal e simbolicamente. Trata-se da vitória do povo judeu contra seus dominadores gregos, uma batalha de valores morais e espirituais contra a opressão profana, o materialismo e a degeneração moral, além da luta pela liberdade de culto. Sua duração é de oito dias, iniciando-se em 25 de Kislev, correspondendo ao fim de novembro e início de dezembro.

Hanukkah é uma festa menor comparada às demais, em especial, às três grandes da Torá (Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos), porém, possui uma história realmente inspiradora. O cenário é o da terra de Israel no século II a.C. e, por isso, não consta na Torá. Sua história também não é contada no Velho Testamento protestante, mas está relatada nos primeiro e segundo livros de Macabeus, constantes da versão Septuaginta e que compõem o cânon católico e ortodoxo. Aliás, ambos os livros são uma excelente fonte histórica sobre o tema. A história de Hanukkah também está contida no Talmude.

VITÓRIA CONTRA A PROFANAÇÃO

Tudo começa quando um rei selêucida (greco-sírio) toma o reino da Judeia. Antíoco Epifânio IV detinha um ódio profundo pela religião judaica e tentou unificar seu reino impondo uma total profanação aos judeus. Ele simplesmente os proibiu de praticarem o judaísmo, ordenando-lhes que adorassem aos deuses gregos. Esse foi um dos piores períodos de apostasia para Israel, pois a cultura judaica foi completamente helenizada, o que afastou muitos judeus da fé no Deus de Abraão.

No ano 168 a.C., Antíoco invadiu Jerusalém e tomou o Templo, erguendo lá uma estátua de Zeus. Ele chegou a oferecer sangue de porco, um animal impuro pela Torá, no altar do sacrifício, uma completa afronta à fé judaica. A perseguição foi crescente a ponto de se proibir a observância do shabbat, as leis alimentares e até a circuncisão, algo observado desde o patriarca Abraão. Os pergaminhos da Torá eram confiscados e queimados, e a observância das ordenanças da Torá eram passíveis de serem punidas com morte.

Muitos judeus nesse tempo se recusaram a ceder à profanação imposta pelos selêucidas e morreram como mártires pela fé, conforme o segundo livro dos Macabeus. Entre eles, destaca-se o rabino Eliezer, de 90 anos, que foi açoitado até a morte por se recusar a comer carne de porco. E a história de Hanna e seus sete filhos que foram torturados até a morte, um a um, incluindo o caçula de sete anos, por se recusarem a renunciar a fé no Deus de Israel e em sua Torá diante de Antíoco que determinou a execução dos sete impiedosamente. Estava clara a intenção maligna de erradicar o judaísmo da terra de Israel.

O pesadelo vivido pelos judeus dessa época começa a ter uma virada quando entra em cena um sacerdote chamado Mattityahu. Quando capangas de Antíoco chegaram a seu vilarejo de Modiin, ergueram um altar e exigiram que ele oferecesse sacrifícios aos deuses gregos. Mattityahu se recusou e declarou que permaneceria fiel à aliança estabelecida por Deus com seus patriarcas. Ele, seus filhos e amigos acabaram por matar alguns oficiais sírios, perseguindo o restante. Ciente de que sofreria violenta retaliação por Antíoco, fugiu para as colinas da Judeia com seus cinco filhos e com os demais homens com quem formou uma pequena força para combater as tropas selêucidas.

Inspirados pela ousadia e pela fé demonstradas por Mattityahu e seus filhos, os judeus inconformados com toda a profanação e violência imposta pelo império selêucida engrossavam as fileiras dos revolucionários na Judeia. Dali eles partiam para promover o que hoje seria chamado de uma guerra de guerrilha, promovendo ataques aos destacamentos inimigos e a seus postos avançados. Esses revolucionários ficaram conhecidos como macabeus por causa do nome do filho mais velho de Mattityahu, Judas Macabeu. Foi ele quem prosseguiu comandando a luta dos judeus após a morte de seu pai. O nome Macabeu provém das iniciais em hebraico Mi Kamocha Ba’eilim HaShem  que significa “Quem é como Tu, ó Deus?”

A luta durou vários anos e a vitória dos macabeus pode ser considerada um milagre, uma vez que a proporção de judeus era muito menor que as forças greco-sírias. O império invasor foi repelido nas diversas tentativas de repressão aos macabeus. Na última grande investida, estima-se que os selêucidas tenham empregado uma força de mais de quarenta mil homens, o que levou a uma série de batalhas e à vitória final dos judeus.   

“UM GRANDE MILAGRE OCORREU ALI”

Após o longo conflito e o emprego bem sucedido de táticas de guerrilha, os macabeus entraram em Jerusalém para retomar o Templo que havia sido completamente profanado nas mãos dos helenistas por ordem de Antíoco. Após realizarem uma limpeza ritual de todo o complexo, decidiram consagrá-lo, dedicando-o novamente a Deus (e daí provém o nome Hanukkah), restaurando o serviço diário de adoração. Isso ocorreu em 25 de Kislev, data que marca o início da Festa. Iniciou-se também a dinastia dos hasmoneus, nesse tempo, com Shimeon e, mais tarde, Yochanan, ambos filhos de Mattityahu, que se tornaram sumos-sacerdotes.

Foi, porém, cumprindo os ritos de purificação e preparação que os sacerdotes descobriram que havia apenas um pequeno jarro de azeite selado que não havia sido profanado e, portanto, estava qualificado para uso na menorá do Lugar Santo, a fim de permitir sua iluminação contínua. Havia, porém, um problema.

A Torá ordena que a luz da menorá deveria ser contínua e o azeite encontrado era suficiente apenas para prover iluminação por um dia. No entanto, aquela pequena quantidade fez com que a menorá fosse iluminada por oito dias consecutivos, um verdadeiro milagre. Esse intervalo de tempo foi suficiente para que se produzisse mais azeite de modo a permitir seu uso contínuo na iluminação da menorá.

Esse é considerado o milagre de Hanukkah. Embora a guerra contra os selêucidas tenha sido um milagre em si — e sem ela não haveria a retomada do Templo — o azeite usado na iluminação da menorá é um símbolo de que o Altíssimo esteve com os judeus que se rebelaram contra a profanação de sua fé desde o início. Primeiro, Ele fortaleceu as mãos de Mattityahu para iniciar uma guerra, operando milagre após milagre, até culminar com a multiplicação do azeite da menorá. A expressão “Um grande milagre ocorreu ali” (Nes gadol haiah sham) é usada até hoje para se referir a Hanukkah.

Na parte de cima, a imagem ilustra a resistência dos macabeus contra as tropas selêucidas nas colinas da Judeia. Abaixo, a dedicação do Templo após a tomada de Jerusalém, com destaque para a menorá, objeto do milagre. Nas margens, aparecem os nomes em hebraico de personagens de Hanukkah: Mattityahu, Shimeon, Yochanan e Eliezer.

LIÇÕES DE HANUKKAH

A ocorrência desse milagre é o motivo da hanukkia (menorá especial para Hanukkah) ter nove pavios, oito para cada dia do milagre e um para acendê-los. Isso é feito ao pôr-do-sol de cada dia da Festa. Acende-se o primeiro pavio no primeiro dia e vai-se aumentando consecutivamente o número de pavios, a cada dia, até o oitavo, quando a hanukkia fica completamente iluminada. Ela deve ser colocada na parte mais visível da casa, normalmente na janela ou próximo à entrada, de modo que até quem passar pela rua escura possa vê-la, fazendo-se menção ao milagre de Hanukkah.

A Festa de Hanukkah está citada no Novo Testamento apenas uma vez. “E em Jerusalém havia a festa da dedicação, e era inverno. E Jesus andava passeando no templo, no alpendre de Salomão.” João 10:22,23 Jesus certamente havia subido a Jerusalém para celebrar Hanukkah, a Festa da Dedicação ou das Luzes. O fato dessa Festa não constar na Torá e, ainda assim, Jesus subir a Jerusalém para celebrá-la mostra que Ele vivia intensamente suas raízes judaicas.

O zeloso sacerdote Mattityahu, ao não se dobrar perante uma imposição profana e manter firme sua decisão de não comprometer seus valores nem sua fé, não imaginava que estava originando um movimento de resistência que levaria à libertação total de Israel dos selêucidas. Mesmo após sua morte, seu primogênito Judas Macabeu conduziu seu povo a uma vitória impossível de ser conquistada aos olhos humanos.

Essa é a primeira lição que se extrai de Hanukkah. Nunca tenha medo de se posicionar a favor do que é correto e justo. A fé de Mattityahu e de seus cinco filhos não os permitiria fazer menos, assim como foi a fé do rabino Eliezer, de Hana e de seus sete filhos torturados até a morte por sua lealdade ao Senhor. Deus os honrou em sua decisão de ir até as últimas consequências, incluindo o sacrifício da própria vida. Não importa se somos perseguidos ou sofremos danos diante dos homens. Deus sempre honra aqueles que o honram. Um homem de fé e de valores morais sólidos é um homem sem medo e lutará por eles até o fim. E Deus continua contando com os Mattityahu, com os Eliezer e com as Hana, nos dias de hoje, para difundir seu Evangelho, não apenas falado, mas vivido por suas testemunhas.

O óleo na Bíblia é um símbolo do Espírito Santo e aqui está a segunda lição. Sem esse azeite diário sendo reposto em nosso homem interior, é impossível brilhar sua luz. A comunhão diária com o Espírito Santo é condição essencial para resplandecer sua esperança, fé e amor. E assim como no milagre de Hanukkah, quanto mais fizermos uso desse óleo, mais ele se multiplicará, tornando mais intenso o brilho da luz de Cristo em nossas vidas.

A terceira lição de Hanukkah é que as trevas não devem ser motivo de temor, mas de estímulo para os que conhecem a luz. Quanto maior a escuridão, maior o brilho da luz da hanukkia. É uma referência para todos os que passam pelo caminho escuro da rua. Ao olharem para ela, de longe reconhecerão sua luz e poderão se guiar. Assim é todo aquele que crê e segue a Yeshua. Como Ele mesmo disse: “Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte.” Mateus 5:14 Ele é a luz maior e nós somos hanukkiot, pequenas menorás e lamparinas nesse mundo a brilhar essa luz; não há como ocultá-la.

Assim como a luz da hanukkia aumenta gradativamente a cada dia da Festa, a luz de Cristo em nós deve ter o mesmo efeito, ao longo de nossa caminhada, até que alcancemos a plenitude. Conforme declara o provérbio: “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito”. Provérbios 4:18

Que nesse período de Hanukkah, possamos refletir melhor sobre ser uma hanukkia do Messias; se temos brilhado sua luz intensamente, se temos sido como um pavio tênue e tremulante, quase se esvaindo, ou se temos estado apagados, sem azeite para brilhar sua luz. E, assim como os macabeus lutaram para dedicar o Templo a Deus novamente, possamos lutar contra as forças contrárias a fim de remover as cinzas do altar de nosso coração, lançando fora qualquer coisa que o tenha profanado. Consagremos e dediquemos a Ele o lugar preferido de sua habitação, a saber, nosso homem interior.

!חג חנוכה שמח

Hag Hanukkah Sameach! (Feliz Hanukkah!)


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Segue um videoclipe dos Maccabeats, um grupo musical à capela que conta a história de Hanukkah de forma bem humorada.

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