Hanukkah – a Vitória da Luz contra as Trevas

Hanukkah – a Vitória da Luz contra as Trevas

20 de Dezembro, 2022 2 Por Getúlio Cidade

Ao entrarmos em mais uma temporada de Hanukkah, acredito ser oportuno abordar sobre um conflito que se desenrola no mundo moderno. Um conflito de valores espirituais e morais que nos são caros e para os quais precisamos arregimentar o melhor de nossas forças a fim de defendê-los, ainda que isso nos custe a própria vida. Hanukkah representa a vitória da luz contra as trevas e é uma Festa repleta de lições para as comunidades judaico-cristãs de todas as eras e de todos os lugares.

Para um artigo explicativo e abrangente que melhor ajuda a compreender o significado dessa Festa, leia Hanukkah – A Festa das Luzes.

De modo geral, Hanukkah é conhecida pelo milagre do azeite da menorá. Este, no entanto, não foi o único. No século II a.C., o império selêucida (greco-sírio), muito mais forte e poderoso, foi desafiado por uma família de sacerdotes — a dinastia dos hasmoneus —, homens que não eram treinados para a guerra, mas para o serviço do Templo. Estes guerreiros improvisados, muito inferiorizado em número e em armas, derrotaram o forte exército grego, reconquistaram o Templo que fora profanado e o consagraram novamente a Deus, retomando seu serviço por mais duzentos anos, até sua destruição completa, no século I d.C, pelos romanos. Essa vitória improvável, por si só, é considerada outro milagre.

Hanukkah (חנוכה) significa dedicação, consagração e possui a mesma raiz do verbo lerranech (לחנך) que significa educar, ensinar. Uma vida totalmente dedicada e consagrada é a melhor maneira de ensinar de modo prático às pessoas a sua volta sobre o verdadeiro serviço a Deus. Esse zelo pelo divino e de se manter santificado para Deus, enfrentando a morte se necessário, é a maior de todas as lições transmitidas pelos hasmoneus a seus compatriotas. E é também um exemplo e uma inspiração para todos ainda hoje.

O POUCO COM DEUS SE TORNA MUITO

Ao conquistarem o Templo das mãos dos selêucidas, os sacerdotes hasmoneus fizeram uma limpeza completa a fim de remover tudo o que fora profanado de seu interior. Nesse processo, encontraram um frasco de azeite com o selo sacerdotal e que não fora profanado, a ser usado como combustível da menorá. Um frasco era suficiente apenas para um dia de iluminação, mas aquele frasco em especial foi suficiente para produzir combustível por oito dias consecutivos.

Ao testemunharem esse milagre da multiplicação do azeite, os judeus compreenderam que tudo o que ocorre no universo, mesmo a ordem natural das coisas, se sucede de acordo com a providência divina. Embora se tratasse de apenas um fenômeno físico, houve uma intervenção direta de Deus para que queimasse por oito dias em vez de um. Este é um sinal para que saibamos que Deus está no controle dos eventos naturais mais simples, envolvido ativamente com sua criação.

Tudo o que foi necessário para o milagre ocorrer foi uma pequena quantidade de azeite. Assim, se tivermos a presença do Espírito Santo, ainda que ínfima, ela poderá realizar milagres, transformando uma pequena fagulha em uma chama poderosa, iluminando as trevas à nossa volta. Precisamos apenas apresentar a Deus o pouco que temos, ainda que esse seja o pouco do azeite que nos restou. E render tudo a Ele, sem reter nada, para que a multiplicação ocorra. Isso nos faz lembrar dos cinco pães e dois peixes que Yeshua usou para alimentar uma multidão. O pouco em suas mãos se torna muito. Só precisamos trazer esse pouco a Ele.

VIVENDO E MORRENDO PELO QUE SE CRÊ

Antes de se tornar uma batalha física, a batalha dos sacerdotes contra os gregos foi uma batalha espiritual. O ápice dessa guerra invisível foi quando Antíoco IV Epifânio, o maligno imperador selêucida, profanou o Templo de Jerusalém com uma estátua de Zeus e ofereceu sangue de porco sobre o altar. Aquilo feria profundamente a fé na Torá e o cumprimento das mitzvot (mandamentos). Era um ponto de não retorno. Para os sacerdotes zelosos do Senhor, não havia alternativa a não ser combater essa afronta até a morte. Eles pensaram que seria melhor morrer lutando por uma causa em que acreditavam, por fidelidade ao Deus de Israel do que viver debaixo de um jugo de opressão contra sua fé.

Em termos comparativos, os israelitas não eram escravos dos gregos como foram dos egípcios; eles possuíam sua liberdade física. O problema era que os gregos queriam impor sua cultura e sua sabedoria humana contra as crenças de Israel, as quais consideravam primitivas. O assédio e a pressão contra o povo judeu foram tão fortes a ponto de muitos deles abandonarem a fé de seus pais, deixando a observância da Torá para seguir a cultura grega, tornando-se helenistas. Diferentemente dos egípcios que escravizavam os israelitas no corpo, mas não se intrometiam com sua fé, os gregos não se conformavam em seguir suas crenças e suas ideologias sozinhos, mas queriam impô-las a Israel.

Alguma semelhança com os tempos contemporâneos? Esse é um bom exemplo de como a História é cíclica e se repete de eras em eras. Por isso, já dizia o Pregador: “O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do sol” Eclesiastes 1:9. Não é de surpreender que o antimessias ou anticristo, quando se manifestar, também profanará o Templo de Jerusalém (que deverá estar reconstruído), conforme profetizado por Daniel e por Yeshua. Ele estará repetindo o mesmo ato de Antíoco IV — um tipo de anticristo — quando profanou o Segundo Templo, durante a guerra dos macabeus.

A cultura grega transferia o centro da adoração que, no judaísmo, é El Shaddai — o Deus Todo-Poderoso — para o homem. Ele é sua própria deidade. Sua sabedoria, seu conhecimento e seu hedonismo são usados para servir a si mesmo. É o homem idolatrando o próprio ego. O Deus de Abraão deveria ser removido da vida judaica e dar lugar ao deus-homem que deveria ser o centro do universo e senhor de seu destino. A essa violência espiritual e ao cancelamento de seus valores, fundamentados na Torá e nos Profetas, os sacerdotes hasmoneus disseram NÃO. Eles não trocariam o Deus de Israel que os libertara do Egito com mão forte e braço estendido para seguir seu próprio ventre e servir a uma ideologia estranha. Estavam dispostos a morrer pelo que criam, em vez de viver escravos de alma e espírito de um povo pagão que queria impor suas crenças.

A vitória contra os gregos não veio dos judeus mais fortes, mas dos sacerdotes que serviam a Deus com seus ministérios. Eles se posicionaram do lado certo, a favor de seu Deus e de seus mandamentos, impondo-se não por sua força física nem por seu poderio militar, bem inferior ao dos gregos, mas por sua fé que lhes serviu de propulsor contra o jugo helenista que buscava dominá-los. Eles lutaram por sua liberdade de culto a Adonai, confiaram nele e assim prevaleceram sobre seus inimigos.

A vitória na guerra nem sempre é dos mais fortes (Ec. 9:11), mas daqueles que confiam no Senhor. “Uns confiam em carros de guerra, e outros, em seus cavalos; nós, porém, invocaremos o nome do Senhor, nosso Deus. Eles se prostram e caem; nós, porém, nos levantamos e nos mantemos em pé” Salmos 20:7,8. A lição é que não se deve temer o homem nem sua força; do contrário, Davi nunca teria enfrentado Golias, muito menos o vencido. Todavia, o homem que teme a Deus não precisa temer nada nem ninguém. A fonte da verdadeira força está no Senhor dos Exércitos — Adonai Tzeva’ot.

BRILHANDO A LUZ NA ESCURIDÃO

A vitória dos macabeus sobre os gregos representa a vitória da coragem e da fé, a vitória da luz contra as trevas. Por mais que fossem tentados a se demoverem de sua confiança no Deus dos judeus, o único Deus verdadeiro e Criador do universo, eles não cederam um centímetro. Os gregos, dominantes na arte da retórica e do uso de sofismas, buscaram convencer os judeus de que viviam em trevas e que deveriam deixá-las para seguir a luz da sabedoria e do conhecimento gregos. No entanto, tudo não passava de engodo. O contrário era verdade e assim é até hoje.

O mundo que jaz no maligno busca convencer os filhos da luz de que estão em trevas por professarem valores bíblicos e exercerem uma fé considerada antiquada, de fundamentos arcaicos para a sociedade contemporânea. O indicado a ser feito, ou o mais conveniente, é abandonar tais valores ou readaptá-los para que se encaixem nos moldes exigidos pelo modernismo social. O cenário cultural e o contexto histórico podem ser diferentes, mas a arte da retórica e o uso de sofismas são os mesmos empregados pelos gregos da antiguidade. Lembre-se, a batalha é, antes de tudo, espiritual e a História se repete. Não há nada novo debaixo do sol…

A despeito da pressão do mundo ou da corrente contrária, nunca comprometa os valores que nos foram transmitidos pela Palavra de Deus; não se deixe levar por falsos argumentos como fizeram os judeus que se helenizaram na história de Hanukkah. Mantenha firme sua posição em defesa da Palavra e da fé inabalável no Deus de Israel. Quando nos posicionamos a seu lado, Ele se posiciona em nosso favor e nos honrará de algum modo, mais cedo ou mais tarde.

Quando o convencimento dos gregos falhou, eles usaram a violência física, mas isso tampouco abalou os heróis improváveis de Hanukkah e essa é uma grande lição dos hasmoneus. Devemos lutar sem medo até o último fôlego pela luz do Evangelho, nunca renunciando nossa fé, como fez Estêvão e tantos outros em face da própria morte. O autêntico Evangelho requer pessoas de coragem e fé, pois o céu não é lugar de covardes. A morte não tem poder sobre os que pertencem a Deus, não devemos temê-la, nem aqueles que podem causá-la. Yeshua nos ensinou que devemos temer apenas aquele que, após a morte, tem o poder de lançar a alma no inferno (Lc 12:5).

O Templo de Salomão possuía janelas largas na parte externa e estreitas na parte interna para que a luz fosse irradiada para fora do Templo e não o inverso. Isso era profético e aponta para a luz que deve irradiar de dentro de cada cristão, como ensinou Yeshua: “Vocês são a luz do mundo” (Mt 5:14).

A luz da hanukkia (menorá especial de Hanukkah) aponta para a luz da menorá do Templo. Durante a Festa, cada lar deve ter sua hanukkia na janela ou na porta de entrada, de modo a ser vista por quem passa na rua. Ela vai aumentando de brilho a cada noite com o acendimento de um pavio a mais até alcançar todos os pavios acesos, na oitava noite da Festa.

Essa hanukkia também é profética e simboliza cada um dos discípulos do Senhor que deve emanar sua luz em todo o tempo de suas vidas, de modo cada vez mais intenso, à medida que progride na caminhada espiritual. Yeshua é a Luz do Mundo, a grande Menorá do Templo, e nós recebemos de sua luz para brilharmos nossa hanukkia. Fomos incumbidos da responsabilidade de brilhar os valores de sua Palavra e seu caráter em meio às trevas cada vez maiores de um mundo doente e perdido que caminha às cegas para o abismo.

Que a lição dos hasmoneus transmitida há mais de dois milênios nos sirva de inspiração durante a presente Festa. Que nos impulsione com a mesma coragem e fé ao enfrentarmos a mesma guerra espiritual nos dias de hoje, a guerra que enfrentaram sem recuar e sem se acovardar um só instante. Combatamos o bom combate da fé sem medo, pois o Senhor dos Exércitos luta por nós. A luz sempre vence as trevas. Essa é a essência de Hanukkah.


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