Yom Kippur e o Ano do Jubileu

Yom Kippur e o Ano do Jubileu

4 de Outubro, 2022 6 Por Getúlio Cidade

Estamos nos aproximando de mais uma das Festas do Outono, Yom Kippur, ou Dia da Expiação, ou ainda Dia do Perdão, que se inicia ao pôr do sol do dia 4 de outubro de 2022. Essa é uma Festa revestida de profundo simbolismo para os cristãos, em todos os detalhes, desde a preparação do sumo sacerdote até as ofertas requeridas no dia. Yom Kippur é também o dia em que era anunciado o ano do Jubileu, um tempo especial que ocorre apenas a cada cinquenta anos. Vamos entender melhor a relação dessa Festa do Senhor com o Jubileu.

O ano do Jubileu (HaYovel) é uma ordenança contida em Levítico 25 e sua referência é a shemitá. A cada sete shemitás, ou seja, sete vezes sete anos que equivalem a 49 anos, o ano seguinte que inicia o primeiro de um novo ciclo é o Jubileu. Esse ano especial, então, ocorre a cada 50 anos. Ele somente era anunciado, mediante o toque do shofar, no décimo dia de Tishrei, exatamente em Yom Kippur.

O Jubileu é um mandamento que, assim como a shemitá, só pode ser observado exclusivamente na terra de Israel. Esse também era um ano santificado a Deus, quando era proclamada liberdade na terra de Israel a todos seus habitantes. Cada homem tinha suas dívidas perdoadas e o direito de retornar à sua possessão. E aqueles que tinham se tornado escravos devido a dívidas, ganhavam o direito de retornar a suas famílias.

O mandamento de que a terra não seria vendida continuamente, mas teria de voltar à posse da família garantia a identidade geográfica de cada tribo, algo que remontava à divisão da terra por Josué, após a entrada do povo em Canaã, proveniente da peregrinação do Sinai. Nisso refletia-se a mesma ideia do mandamento da shemitá: a terra pertence a Deus e não ao indivíduo.

O JUBILEU NOS DIAS DE HOJE

Há algumas condições para que o Jubileu seja observado. A principal delas é que os judeus estejam habitando na terra de Israel, a fim de herdá-la como nação e não como indivíduos. Isso porque Yovel está ligado à identidade nacional, algo imprescindível para que se anuncie esse ano especial em toda a nação.

Por esse motivo, o Jubileu deixou de ser observado durante o exílio babilônico. Quando Israel regressou do exílio, muitos judeus escolheram permanecer na diáspora. Sendo assim, mesmo após a construção do segundo Templo, a condição primordial para se proclamar o Jubileu não fora satisfeita.

Diferente de um ano de shemitá — fácil de calcular e cuja condição repousa apenas no descanso da terra —, o Jubileu não é observado em Israel há cerca de 2700 anos, pois o povo judeu se dispersou, não apenas no exílio babilônico, mas também após a destruição do segundo Templo pelos romanos, em 70 d.C. Sabemos que o Estado novo de Israel foi fundado em 1948, porém, o povo judeu em sua íntegra não regressou para a terra. Ainda há milhões de judeus na diáspora. Logo, esse é o motivo pelo qual o Jubileu não é observado atualmente.

Houve uma tentativa de se declarar o ano de Jubileu no Yom Kippur de 5776, após o ano de shemitá correspondente a 2014/2015. Isso foi feito por uma corte rabínica de Israel (beit din), conhecida como sinédrio nascente. Esses rabinos concluíram que as condições para se declarar o Jubileu haviam sido cumpridas e que, embora haja muitos judeus na diáspora, isso não seria impedimento para cumprir o mandamento.

A corte alegou que não havia outro Estado judaico fora da terra de Israel e que a maioria dos judeus que lá vivem não nega sua identidade judaica. Além disso, eles interpretaram que o número de judeus que habitam a terra ultrapassa o mínimo de 600 mil. Esta foi a quantidade de judeus que entrou na terra proveniente do Egito, sob o comando de Josué, ocasião em que se iniciou a contagem para o Jubileu, após a distribuição da herança às doze tribos. Entretanto, muito poucos judeus reconhecem a autoridade desse sinédrio nascente, tampouco a decisão de se declarar o Jubileu. Logo, o ano de Jubileu permanece em aberto e ainda está por ser declarado.  

YOM KIPPUR E O FIM DOS DIAS

As condições para se cumprir o Jubileu são várias, porém, seu significado mais importante se resume em uma só palavra: liberdade. Era o ano em que se proclamava liberdade a todos os cativos, pois o perdão da dívida era incondicional, a fim de que todos os judeus, sem exceção, fossem livres para servir a Deus em sua própria terra e no seio de sua família. Jubileu e liberdade são sinônimos eternos.

Esse perdão da dívida está diretamente relacionado à Festa de Yom Kippur. Aqui não se trata de perdão de dívida financeira, porém, perdão da dívida dos pecados cometidos. Yom Kippur era o dia do ano escolhido por Deus para perdoar os pecados da nação, não apenas no nível individual, mas nacional. Embora o ano de Jubileu se iniciasse em Rosh HaShanah, faz todo sentido que fosse proclamado apenas dez dias depois, em Yom Kippur, pois assim era declarado o perdão de todo tipo de dívida.

Segundo a escatologia messiânica, Yom Kippur também é a Festa do Senhor relacionada à volta do Messias diante de todo o mundo. Há plenitude de profecias que apontam para isso, tanto no Velho quanto no Novo Testamento e é um tema que abordamos com profundidade no volume 2 de A Oliveira Natural que trata das Festas do Outono. Yom Kippur é o Dia da Expiação dos pecados de Israel e de sua restauração final, quando se encontrar com seu Messias (Rm. 11:25-27). Essa é a conexão de Yom Kippur com o fim dos dias.

O ANO DE JUBILEU E O MESSIAS

No início de seu ministério terreno, ao entrar na sinagoga de Nazaré em um Shabbat, Jesus recebeu o rolo do profeta Isaías e leu: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor”. Lucas 4:18,19

As palavras lidas por Yeshua constam do início do capítulo 61 de Isaías e são uma menção direta ao ano do Jubileu, pois este era o “ano aceitável do Senhor”. Deus tinha prazer nele por ser um tempo de libertação da servidão, de perdão de dívidas e de restituição para todos de seu povo. Ao finalizar a leitura, quando todos os olhares dos presentes estavam sobre Ele, acrescenta: “Hoje esta Escritura se cumpriu aos seus ouvidos” (v.21). Isso gerou espanto e revolta nos presentes que o expulsaram da sinagoga.

O ano de Jubileu não era mais celebrado no tempo de Jesus há pelo menos sete séculos, desde o exílio babilônico, pois havia muitos judeus na diáspora. Ezequias, um dos profetas que viveu no exílio, escreveu uma profecia que promete a reunificação das doze tribos no território de Israel, a ser realizada quando o Messias se manifestar. Trata-se de uma profecia muito conhecida dos judeus: a união da vara de Efraim (reino de Israel) e da vara de Judá (reino do sul), fazendo das duas uma só vara (Ez. 37:19). A divisão dos dois reinos foi causada pelo pecado de Salomão, durante o reinado de seu filho Roboão. Tal divisão bem como a dispersão das tribos, ocasionada pelo exílio, continuava nos tempos de Yeshua. A profecia ainda diz:

“Eis que eu tomarei os filhos de Israel de entre as nações para onde eles foram, e os congregarei de todas as partes, e os levarei para a sua própria terra. Farei deles uma só nação na terra, nos montes de Israel, e um só rei será rei de todos eles. Nunca mais serão duas nações; nunca mais para o futuro se dividirão em dois reinos.” Ezequiel 37:21,22

“O meu servo Davi reinará sobre eles; todos eles terão um só pastor, andarão nos meus juízos, guardarão os meus estatutos e os observarão” (Ezequiel 37:24). Essa é uma alusão ao Messias, Filho de Davi, uma vez que Davi reinara cerca de seis séculos antes dessa profecia. Portanto, o Messias é o único capaz de reunir as doze tribos da diáspora e, assim, declarar “o ano aceitável do Senhor”. Ninguém em Nazaré cria que Yeshua era o Messias e isso explica o porquê de terem-no expulsado da sinagoga. Além de todo o povo judeu não estar ocupando a terra, havia um elemento invasor, o império romano que os oprimia. Entretanto, Yeshua se referia a outro tipo de libertação — a do pecado que torna a alma do homem cativa. De fato, todo aquele que ouve e crê em sua Palavra, recebe a libertação do jugo do pecado e a vida eterna. 

Há ainda um outro mistério envolvido no Jubileu. Em Lucas 4, Jesus leu a profecia de Isaías até o verso 2, mas não o completou. Ele parou em “apregoar o ano aceitável do Senhor”, porém, o verso 2 diz “o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus”. Por que Ele teria suprimido esse trecho? Porque esse verso sozinho abrange as duas vindas do Messias, embora ambas falem do mesmo dia. Yom Kippur é o dia em que se tocava o shofar em toda a terra para anunciar o Jubileu, o ano aceitável do Senhor. Esse é o tempo relacionado à primeira vinda do Messias para libertar a humanidade do pecado por intermédio de seu sacrifício. Contudo, Yom Kippur também é conhecido como o Dia da Vingança ou Yom Nakam. Esse dia ainda não chegou e refere-se à volta do Messias para se vingar dos inimigos de Israel e libertar a nação.

Uma das condições para que se cumpra Yovel é que todo Israel esteja habitando em sua terra, pois assim dizem as profecias. Isso vem ocorrendo gradativamente. A cada ano, aumenta o número de imigrantes judeus do mundo inteiro. Esse êxodo irá aumentar exponencialmente quando se levantar a perseguição contra o povo judeu, encabeçada pelo anticristo. O Senhor reunirá as doze tribos na terra como prometeu por seus profetas e a principal condição para o Jubileu estará satisfeita. A reunião das nações inimigas de Israel para fazerem guerra aos judeus deflagará a volta de Yeshua aos olhos de toda a Terra.

Esse é exatamente o aspecto profético da Festa de Yom Kippur que se dá em um tempo de angústia, Teshuvá, jejum e muitas orações por perdão. Esse clamor que se repete ano após ano atingirá seu clímax em algum Yom Kippur. E é nesse contexto que o Messias se manifesta, no Dia da Vingança, para livrar Israel e reafirmar sua aliança com toda a nação, conforme profetizado pelo apóstolo Paulo: “E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades. Esta é a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados”. Romanos 11:26,27 

O Libertador virá de Sião para perdoar os pecados da nação. É disso que trata a Festa de Yom Kippur. E virá para libertar a terra do jugo de seus inimigos, reafirmando a herança das doze tribos de Israel, cumprindo o que foi predito pelos profetas. Yeshua será reconhecido por toda a nação como Messias, não apenas individualmente, mas ao nível da identidade nacional. Assim, Ele reestabelecerá o ano de Jubileu na terra de Israel, apregoado com o som do shofar, iniciando a era messiânica a partir de seu trono firmado em Jerusalém. Essa é a conexão de Yom Kippur e o ano do Jubileu.


Leia também:

Yom Kippur – o Dia da Reconciliação

Yom Kippur: Perdão e Restauração

Teshuvá: Tempo de Arrependimento

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